terça-feira, 30 de junho de 2009

trinta e seis

Ando há que tempos a querer expôr num local público um veemente protesto contra quem manda no Metro de Olissipo assim como um outro tipo post scriptum a desfavor do... como colocar isto sem ser ofensivo... inteligente que comanda camarariamente os destinos de quem ainda teima em viver numa cidade cada vez mais feita para quem não mora nela.
Pois tenho a dizer que sou totalmente contra a construção de linhas e paragens de Metro para os arrabaldes enquanto não o fizerem na ex-nobre e esbelta cidade.
Não admito que um tipo que habite na Expo, antes de Loures ou Moscavide, não tenha uma linha directa para Santa Apolónia que passe por aldeias fantásticas como a Madredeus, Poço Bispo, parte do Beato e ainda uma parte mais pequena de Xabregas.
Não admito que a tão badalada Linha das Colinas não presenteie Sé, Alfama, Castelo, Graça, Sapadores, Penha de França, Paiva Couceiro, Alto de São João e Afonso III com um modernismo só ao alcance de alguns iluminados, como o Sebastião Carvalho e Melo.
Aliás, reparem: estas duas linhas poderiam ser intersectadas por uma que vinha directamente de Arroios ou Alameda. Que coisa mais inteligente e inovadora, "pá".
Isto já para não falar da Portela e aquela coisa pouco importante que se chama aeroporto ou lá o que é. E Santos, Belém, Memória? Nunca mais saíamos daqui.
Mas não, mas não... Odivelas, Amadora e outros arrabaldes cujas casas são a metade do preço de Lisboa, os impostos mais baixos, a Emel que não existe, os polícias que não multam e etc é que têm direito a um transporte que foi moderno há um século atrás.
Enquanto isso, o olissiponense come, cala, paga e é tratado como um Afegão.
O segundo caso tem a ver com o Terreiro do Paço e esta curiosa e estonteante ideia do senhor costa. Vê-se que não mora na capital e que anda de cú tremido em carros de alta cilindrada pagos por nós, com gasolina paga por nós, seguro contra todos pago por nós, motorista pago por nós e batedores pagos por nós.
Quando esse senhor cair do poleiro e quiser fazer um mísero quilómetro do Cais do Sodré até ao Terreiro em cerca de duas horas com alguma sorte, vai deitar as mãos à cabeça. Ou então, se bem o entendo, até vai achar lindo aquele chão ridículo em losângulo que vai acabar por destruír a praça mais simbólica de uma nação.

Desculpem.
Desculpem.
Mas nunca tive um espaço público.

trinta e cinco

Curioso lembrar-me desta carreira da Carris que apanhei durante largos e bons anos, ainda fedelho e sem o medo recente dos malfeitores, pedófilos, raptores e demais.
Aliás, muito mudou desde há uns 20 anos. Não querendo massacrar-vos com mais memórias, posso dizer que o café não sabe ao mesmo, os pastéis de nata são uma tremenda porcaria, já não existem aquelas padarias às tantas da matina onde quem era mais noctívago conseguia matar o bicho, os senhores polícias já não têm barriga nem bigode, dos quatro partidos políticos temos apenas quatro e meio, enfim. Nunca mais saía daqui. Mas o 35 era um bom autocarro.

trinta e quatro

Já viram bem as pessoas que estão a morrer actualmente? Fawcet, Jackson, Pina Bausch e todos aqueles ainda mais importantes que perecem em acidentes estúpidos sem culpa nenhuma?
Resta o consolo de uma criança com três anitos de idade.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

trinta e três

Números que me levam a revisitar tempos idos.
"Diga trinta e três!"
Automaticamente transporto-me para a lata de leite condensado surripiada às escondidas e que me acompanhava a leitura de BD naquele pequeno espaço entre a janela e o reposteiro do meu quarto. As deliciosas bombocas de baunilha, os gelados de cone comprados na escola com um guardanapo a tapá-los das intempéries, os pirolitos, a Canada-Dry, a gasosa BemBoa, os bolos dentro de caixas de madeira e vidro nas tardes de praia, os bocados de polvo assado que custava um balúrdio nas noites dessas praias, as visitas de estudo a Alverca e Alfeite, as primeiras matinés no Porão da Nau, Picapau e mais tarde Jukebox, os discos de vinil que chegavam em caixotes para vários amigos, as rádios-pirata, a tentativa de encontrar o sinal noctívago de uma estação TV pirata em televisores convencionais, o Betamax e a sua guerra com o VHS, as noites nos cinemas Quarteto e City-Cine com as extraordinárias sessões duplas à meia noite, os saudosos cadeirões do Star, o Estúdio por cima do Monumental, o canto escondido do 7ª Arte, a biblioteca e centro de fotocópias da Gulbenkian, os ciclos de video no Centro de Arte Moderna, as romarias à Bertrand do Chiado para encontrar o Melody Maker e a Bravo britânica, os Lábios de Vinho, as primeiras Doc Martens, a aventura que foi ser-se jovem quando Olissipo acordou para a Europa e mundo.

Estou velho e tenho saudades.

trinta e dois

Chegado à conclusão que a extraordinária educação que os meus pais me deram não serve de nada num mundo em que a honra e a sua palavra deixaram de ter nobreza, continuo nesta labuta diária de exigir o que é meu por direito.
Trabalho e esfalfo-me que nem um cão para depois sofrer horrores e maus momentos à espera do chequito ou tranferência bancária.
Como não aprendi a gritar, injuriar e ameaçar, dou por mim a ficar sempre como último na fila da lista de pagamentos a fornecedores.
Eu sei que sou parvo, passo algumas dificuldades de vez em quando e, como português, só me queixo aos amigos deste infortúnio.
Eu bem que quero mudar e até me esforço, mas isto é como aquela história do escorpião que pede boleia ao sapo para atravessar o riacho.
A natureza é um desatino.

trinta e um

Tenho muito medo do histerismo de massas.
Já passei por duas situações complicadas em que quase fui esmagado e naturalmente sofro de uma fobia. Nunca fui a um jogo de futebol, ir a concertos ao vivo é complicado e só vou se tiver lugar sentado nas bancadas ou camarotes. Dizem-me que assim não gozo os artistas e estar no meio do maralhal é que é bom, mas desculpem, não. Tenho medo, muito medo do povo, da sua desordem, pânico e loucura.

Quando vejo mais de 20 pessoas a dirigirem-se a mim só me apetece gritar.

domingo, 28 de junho de 2009

trinta

Preparo-me para a maior viagem da minha vida e as dúvidas começam a ser reais. Sempre fui muito materialista, gosto de colecções e de me rodear com memórias, coisas bonitas, alguma tecnologia que me garanta excelência na qualidade audiovisual e guardo tudo, tudo.
Para uma pessoa como eu, esse tudo são bastantes coisas e perturba-me, por exemplo, o anúncio de um novo suporte de audio ou video. É que não consigo deitar fora as VHS que comprei em lojas europeias e que me fizeram dono de um espólio cinematográfico invulgar em Portugal.
Se aplicarem esta situação à demais tralha percebem que a minha gentil casota está atafulhada de coisas. Mas são as minhas coisas.
Ora voltando ao início do escrito, essa viagem vai ser também uma aventura, toda uma nova vida.
Levar tudo o que tenho e gosto é, para além de tarefa hercúlea e dispendiosa, uma estupidez.
Eu sei disso mas está a custar.
E começa a doer.

vinte e nove

Tenho uma parte da vida arrumada em caixotes ali na arrecadação da direita. Não estou a falar de memórias, mas de equipamento tecnológico que já trabalhou muito e me rodeou mais de 10 anos.
Contudo houve um dia em que escolhi afastá-lo. Não fiz o que costumo nestas ocasiões que é vender tudo a qualquer pessoa e limpar qualquer traço da sua existência. Decidi apenas escondê-lo mas não muito longe.
Se calhar não estou a fazer sentido, mas para mim faço.
É que um dia destes pode dar-me aquela vontade outra vez.

vinte e oito

Se pudesse escolher uma mentira para enganar o mundo, qual seria?
Tenho estado a pensar nisso e é um turbilhão.

vinte e sete

Este número diz-me muito pois estava pintado numa carroceria vermelha de um automóvel de verdadeiras corridas. E como agora estou a relembrar toda essa vida, celebro-a com um silêncio que poucos irão entender.

vinte e seis

Hoje senti-me velho. Bom, muitas vezes é como me sinto mas depois escondo-me na noção que tenho do mundo global, de alguma cultura que fui conseguindo e com as memórias que só alguns anos permitem.
Mas é complicado gerir a descoberta de um jovem moçoilo de 14 anos que idolatrou uma data de nomes emetevianos até à morte de um verdadeiro símbolo pop. Este jovem não sabia que os passos de dança usados pelos seus modernos e actuais ícones já tinham sido inventados. Ficou perplexo quando percebeu que conhecia todas as melodias sem saber de quem eram. Ficou agarrado à tv 24 horas seguidas. Talvez mais, com um intervalo para uma bucha e uma sesta.
Este jovem, nascido na era na comunicação, não sabe o que é a net 2.0. Não entende o que é a globalização pois nasceu com ela. Mas, graças a deus, percebeu que antes de toda a sua verdade, existiu um gajo que uniu os continentes apenas com o seu nome.
Perguntei-lhe o que é que achava disso ao que me respondeu "man, não sei".

sábado, 27 de junho de 2009

vinte e cinco

As redes sociais são um dos muitos sinais da progressão do big brother nesta nossa sociedade cada vez mais imberbe, adormecida, extenuada e receosa.
Os mais novos fazem duas coisas na vida: teclam ao telemóvel e teclam ao computador sempre para os mesmos amigos com quem passam grande parte do dia.
Tenho reparado nos dramas juvenis que até são semelhantes aos adultos, com chatices, convulsões, traições e discussões. Fazem-se e perdem-se os melhores amigos - os best - num único dia.
A vida está toda escancarada, um livro aberto que em vez de dar cultura ou satisfação chupa sem dó a alegria e a pujança de uma tenra existência.
Esta loucura global com festas marcadas pelo twitter, facebok, hi5 e outras denominadas redes sociais para celebrar a morte de um menino-homem, provoca-me um sentimento dúbio.
Por um lado o mundo onde vivo está mais próximo que nunca e ao alcance de um simples dedilhar.
Por outro lado, bolas pá, deixem-me estar sossegado no meu cantinho para que ninguém saiba se ressono à noite ou faço muito barulho nos lavabos.

É que ainda tenho as minhas vergonhas.

vinte e quatro

Fico aparvalhado quando percebo o início do final de uma amizade que foi também em tempos mais idos uma aventura a dois.
Ao fim e ao cabo, superaram-se graves problemas e condicionantes, coisas menos boas e alguns disparates. Se se conseguiu isso porque raio é que agora, quando quase tudo até estava a correr bem, há uma parte que se afasta sem explicação e encerra assim um capítulo da sua/nossa história que até me foi importante?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

vinte e três

É raro estar doente e nem apanho as gripes invernais. Só tenho, de vez em quando, uma dor de cabeça derivada dos excessos noctívagos. Nessas alturas engulo duas aspirinas e, não sendo tiro e queda, alivia bastante. Aliás, trato quase tudo à lei da aspirina e não me tenho dado mal com essa simplicidade.
Logicamente que vivendo num país angustiado e sobredopado com anseolíticos, nunca tenho em casa medicamentos para atenuar dores mais fortes que as minhas.
Aconteceu isso uns dias atrás quando uma amiga cá pernoitou chorando compulsivamente o final abrupto da sua paixão.
Sem mais palavras perguntei-lhe se queria uma aspirina.
Ela, conhecendo-me esta política na vida, parou de fungar, olhou-me nos olhos, sorriu e gargalhou.
A noite foi menos má a partir daí.

Afinal, a aspirina cura quase tudo.

vinte e dois

Há quem se perca por sapatos, malas, relógios ou outros ítems.
Ou por bons vinhos e petiscos. Ou por desejos carnais difíceis de esconder.
Ou por amor ao próximo ou próximos. Até por amor a Deus.

Eu sei quase sempre o meu caminho. Mas tenho que pensá-lo antes da viagem.

vinte e um

Da minha sala vejo parte de uma parede e chaminé brancas e, logo depois, uma enorme palmeira recortada num bonito céu azul.
Por vezes isto basta.

vinte

Estou com mais uma insónia das que me acompanham desde tenra idade - já fui a tudo e todos, esqueçam lá as mezinhas - e são sempre mais graves quanto o mais cedo tenho de acordar para um qualquer compromisso.
Já sei como é e rodeio-me de episódios de séries tv, filmes, livros, revistas e jornais. O resultado é este: cinco da manhã e reunião às nove.
Regressarei à cama daqui a um minuto. Sei que vou ver as seis.
Talvez as sete.
Até logo.
Pelo menos foi bom desabafar.

dezanove

Sou mesmo um fraco. Dou por mim a quebrar promessas, só porque tenho a desculpa que a coisa não está fácil e porque me surge uma dúvida que eu esperava não ter que sentir novamente.
Não é pela dúvida que quebro essas tais promessas mas é pela aposta que não teria mais dúvidas.
Pois tenho.
E que bem que sabe.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

dezoito


Recebi durante a janta - que até estava a ser sobre trabalho - cerca de duas dezenas de sms (eu sou velho, não utilizo essas modernices como push-email e facebook no telecas) que me garantiam ser verosímil a notícia sobre a morte do ex-rei da pop.

Fiquei assim a modos que nem sei. É que não me aquece nem arrefece. Desculpem, mas é a verdade. Estou-me completamente nas tintas para este acontecimento.

Pelo menos vai fazer juz à foto acima se é que já não o fazia.

Eu sei que estou a ser um bocadito insensível mas aquela questão da pedophilia ainda está muito fresca.

dezassete

Sempre fui um medroso no que toca a grandes mudanças na vida.
E sabem que mais? Estou mais crescido.
Já não tenho medo.
Só um pequeno receio.

dezasseis

Hoje falei com uma amiga de infância através do facebook. Um intervalo com 20 anos que me reforça a idade e obriga a visitar memórias naquela arca ali do fundo cheia de pó.
O facebookar com alguém dessa altura transporta-me imediatamente para a namorada, que era a melhor amiga desta pessoa, os jantares, a romaria diária pelo BA, a vivência de uma certa movida lisboeta, a noção de conquista, de aventura, de progresso, de objectivos e de loucuras.

É bom relembrar os meus melhores anos. Meus e nossos.

quinze

Isto de já ter uns anos dá-me alguma experiência em como tratar ou retratar amigos e amigas que são, digamos e para evitar equívocos, hipocondríacos.
Hoje enviaram-me um link que me fez rir a bom rir. E fiquei fã.
Uma coisa é fazer propaganda outra é mencionar uma boa ideia e ajudar assim quem a teve.


Esta é uma das t-shirts dessa loja online de que eu nunca tinha ouvido falar e na qual vou gastar alguns trocados.

A loja é a Bom Povo e termina com um .pt.

quatorze

Telefonaram a perguntar o que eu quero para almoço.
É uma regalia viver numa capital europeia e ter um serviço destes tão confortável quanto amável.
E não tem a ver com a crise pois a Dona Esmeralda faz isto a todos os seus queridos amigos que lhe enchem o tasco diariamente.
A Dona Esmeralda tem mão portuguesa no tacho e corpo a condizer. Rechonchuda e pesada mas com uma energia ímpar, tem gosto ao ver-nos comer e avisa sempre que não quer levar restos lá para dentro. Temos que comer tudo, tudinho, o que por vezes é dificil.
Hoje a escolha viaja pelos caminhos de Portugal.
1. Dobrada
2. Chanfana
3. Robalo e Dourada para grelhar
4. Iscas
5. Panadinhos com arroz de tomate
6. Vitela estufada
7 e para os putos. arroz de ervilhas com ovo mexido e salsicha.

Ainda estou confuso.

treze

Gosto muito deste número. É dinâmico, forte e dito de duas formas. Não sei porquê, mas é-me confortável e só posso mesmo adorá-lo.
Para uns é sinónimo de azar, para outros de nada e para os restantes não tem qualquer importância. A não ser que coincida com uma sexta-feira. Nesse caso, até os mais ousados pensam sempre duas vezes quando se cruzam com um gato preto, um escadote ou uma escada, um carro funenário ou um guarda-chuva aberto no interior de uma casa.
Estas fobias são muito engraçadas e é com elas que passamos o exame de menino para moço.
Lembro-me bem de um dia desses, tinha os meus 13 anos. Era sexta-feira, chovia a potes e fazia frio. No caminho para o liceu um gato preto correu-me à frente, passei por baixo de um escadote de um fulano dos TLP, vi um caixão a ser arrumado numa carrinha preta e não fechei o guarda-chuva no hall do liceu.

Estou vivo, não estou?

doze

Em conversa com amigos veio a lume este meu blog. E então do que vais falar, tratar, criticar e tal? Pois ainda não sei muito bem, mas é preciso um conceito? Claro que sim, obrigatório senão ninguém te leva a sério. Epá, quero lá saber disso. Ai vais querer vais, começam os comentários, as guerras, as visitas, se és um sucesso ou não... Epá, isso é para os outros blogs. Este é clean, simplex e nada de especial.

A conversa continuou até que chegou ao manual de instruções.

Olha pá, se queres garinas é fácil. Escreve sobre ti e mostra o teu lado feminino, uma atitude de abandono, critica os teus passos, manhas, forma de estar. Mostra-te tímido mas sempre com um toque de cultura. Fala de Kant, Pessoa, Picasso e dos Monólogos da Vagina.

E se eu não quiser garinas?
Então para que é que tens um blog?

onze


Tenho tentado assistir aos "5 para a meia noite" da rtp2 ou canal2 ou 2 ou lá como quiserem designar.
O conceito até é engraçado pois cada noite tem o seu apresentador, tudo muito late night show, tudo muito pós-stand-up, tudo muito divertido, moderno e inteligente.

Mas o conceito cai pela raiz pois o programa começa, com aviso, aos vinte minutos após a meia noite. Ou seja, começa logo com uma mentira.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

dez


Tive pressa em chegar à dezena. É sempre redonda e aconchegante.
Não vale de muito mas sugere um passo bem dado e firme. E isso dá-me autoconfiança para, quem sabe, continuar neste espaço a preto e branco e um bocado de laranja durante mais tempo do que adivinhei.

Até que estou um bocadito contente.

nove

Não sei muito bem para que serve um blog.
Pode ser intimista, provocatório, social, humorístico...
Pode ser cruel, efervescente, acusatório e difamador...
Pode ser decente, amoroso e bem-aventurado...
Pode ser tanta coisa.
Não sei muito bem como vai ser o meu blog.

oito


Há gritos que acordam almas!

sete

Sempre considerei o sete como o meu número azarento.
Não sei bem porquê, talvez por ter tido um ano liceal menos bom quando era chamado por ele.
Ou porque a semana custa a passar ou passa demasiado depressa.
Talvez por não ter gostado dessa colecção da Blyton.


Só sei que o considero nefasto.

seis

Perguntaram-me porque escolhi intitular os escritos com números em vez de palavras.
Olha, porque sim.

cinco

Estou à espera dessa tal paz que vem com o acumular da idade. E da paciência também. Mas ou sou diferente dos demais ou houve qualquer coisa que se partiu pelo caminho.
A meada perdeu o seu fio, só pode. É que não tenho pachorra para repeats e nesta vida raramente se sai de um loop.

quatro

Detesto o silêncio contudo venero-o.
Adoro o frio mas gosto de sentir o meu corpo a latejar.
Sou pacífico mas tenho vontade de esmurrar muita gente.
Sou sincero mas minto várias vezes.
Sou sociável mas tímido quanto o sol no inverno.
Tenho a mania que sou maníaco.
Gosto de acri-doce mas sou gajo de salgadinhos.
Abuso do álcool sem ter feridas.
Sou um viciado sem vícios pesados.
Detesto um país que venero.
Estou quase, quase a saber quem sou.

três

Tenho memórias maradas. Também tenho conta bancária, uma namorada séria e recente e um nib ou nif ou o raio que parta. Tenho gana, génio (do bom), tristeza e alheamento. Tenho um carro quase pago, uma renda mensal e um telemóvel.
Tenho um computador, uma ligação net, tv com 100 canais, um animal de estimação e roupa variada.
Tenho uma cozinha equipada e vários restaurantes preferidos.
Tenho amigos e amigas, conhecidos e conhecidas e inimigos e inimigas.
Tenho família.
Tenho todos os sentidos e o corpo ainda funciona.
Ao fim e ao cabo, tenho tudo.

dois

Existem bocados da vida que são de difícil digestão. Duros, sensaborões, criam cáries e afectam o nosso hálito social, o que nos leva a fechar corpo e alma e a mudarmos alguns hábitos diários, costumes que pensavamos rotineiros.

Geralmente são provocados por alguém. Raras vezes por algo. Esses alguém são pulgas que mordem e que por vezes até fazem sangue. Grande parte do seu dia a dia é sofrido à espera que qualquer nova atitude desencadeie alguma frustração na vítima. Pior, não desistem facilmente mesmo encontrando no alvo uma pessoa normal.

Resta abrigarmo-nos dos maus ventos e fígados e torcermos para que esses alguém, 99% das vezes anónimos, encontrem paz na sua existência sofredora.

um

Houve uma altura em que desejei mudar o mundo. Era puto, queria saír à noite e não me deixavam, guiar sem ter carta, viajar sem guito. Depois alguém disse "muda-te primeiro" e fiquei sem saber o que fazer. Decidi então experimentar drogas. A primeira foi um corpo feminino. Descobria assim uma das poucas razões que me leva a estar vivo, ainda hoje.

As outras são fáceis de enunciar: bom vinho, boa comida, boa dormida, bons objectivos, boa música, bons amigos e boa vida.

Até agora consegui todos e perdi alguns.

Mas o corpo feminino continua a ser a droga que me leva ainda a querer mudar o mundo.