domingo, 31 de outubro de 2010

A casa dos gordos que escondem magros segredos



Confesso, e porque tenho uns quilos a mais, dou por mim a ver os episódios dessa telenovela desagradável à vista que é o “The Biggest Looser”. Talvez seja para me sentir melhor na minha pele, pois não sou assim tão vasto, ou para tentar auto-convencer-me que preciso de dieta e ginástica afim de garantir resultados semelhantes.
Estes participantes escondem um segredo: é que odeiam ser gordos, por muito que sejam simpáticos e bem dispostos e que mimem os adversários com profundas declarações de amor, aquando a expulsão de um deles.
Num outro continente, está a decorrer uma telenovela cujos participantes também escondem segredos. Intitulada “A casa dos segredos”, estes são em tudo diferentes dos anteriores, pois em vez de exibirem banha, mostram músculos e tatuagens.
Nada podia ser tão diferente, mas os dois programas/concursos têm um factor comum: todos os intervenientes surgem em trajes menores que exibem a maior parte possível de pele e carne. Mas as coincidências não se ficam por aqui. Em ambos os shows televisivos, a carne que se nos apresenta é ...para canhão.
Os segredos, as manhas, as vigarices e os esquemas, fazem parte dos dois jogos, só que chamam-lhe “estratégia”.
Portanto, malta semi-nua, gorda ou musculada, são os novos estrategas ao Serão, que nos ensinam golpes baixos, sujos, mesquinhos e traiçoeiros, tudo em busca de um prémio monetário na precisa altura em que o dinheiro não abunda em lado algum.
Podemos olhar para os programas e decidir que um é menos mau que o outro. Eu já decidi! Perdi uns 15 minutos a assistir a vários segmentos da casa que esconde segredos, mas continuo a ver, quando me lembro, o programa em que se filma o esforço físico e psicológico. A razão é simples: é que enquanto estes portugueses farão sempre parte da escória e mete nojo da nação, os americanos vão deixar de sê-lo, pois passarão de sapos a príncipes e princesas. 
E, convenhamos, sabemos bem o que chamar aos intervenientes do programa da Júlia, e nunca será um epíteto nobre.

sábado, 30 de outubro de 2010

Acordar um acordo acordado pelo desacordo


Há pessoas que concordam e outras que acordam.
As concordantes são, geralmente, as que mais discordam de tudo o que não seja a sua opinião, vontade ou objectivo. As que acordam são as que estão, muitas e demasiadas vezes, adormecidas. No caso das primeiras, chegar a uma concordância implica cedência. Já para as segundas, o acordar dá-se, invariavelmente, tarde. E nem a cafeína ajuda.
Enquanto que o primeiro grupo se desfaz em acusações, avanços, recuos, mudanças e assinaturas, o segundo mantém-se mudo, quedo e só quer mesmo, na maior parte dos casos, voltar a adormecer.
O mundo seria mais justo se todos concordassem e chegassem a conclusões satisfatórias e positivas. Tenho a certeza que, se tal acontecesse, os adormecidos olhariam o novo dia sem ramelas, mas com vigor e vontade, destreza e novas capacidades.
O objectivo pode ser geral, mas parte sempre de uma noção particular. Se calhar, já é tarde para acordar. Mesmo depois de alguns concordarem que esse não é o melhor estado para se sobreviver. Mas de estado em ...estado, todos, sem excepção, vão adormecendo quem estava acordado porque, e sejamos sinceros, nenhum discorda que um outro, que luta contra a sonolência, lhe pode ser nefasto.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O GPS esconde um director de campanha política




Tenho para mim que o GPS, esse aparelhómetro que ajuda pessoas como eu, eterno alfacinha que se perde quando chega à Amadora ou tem de ir a reuniões na Quinta da Fonte e think tanks similares, é um instrumento politico que nos apela ao sentido e obrigação cívica de escolher um dos lados do espectro político-partidário nacional.
Durante uma viagem, somos constantemente agredidos, por uma voz masculina ou feminina, para virar à esquerda ou à direita. Podemos seguir em frente durante um bom bocado, mas inevitavelmente, seremos obrigados a escolher um lado daí a uns centenas de metros ou quilómetros.
Se já não é fácil guiar num país que tem os maiores pilotos do mundo de estrada, para já não falar dos taxistas e de ambulâncias desgovernadas e, nunca esquecendo, peões kamikaze, pombos adormecidos e cães e gatos desorientados, ter uma voz alarmista que nos obriga a virar na próxima saída a 200 metros para um dos lados sem ter a noção do perigo e risco que essa manobra implica, é no mínimo, um completo e profundo exame às nossas capacidades psico-motoras.
Naturalmente, o software português que vem de origem nos GPS, conta com a nossa arte do desenrascanço. E este mesmo software foi a escolha de outros países, como a Turquia, Índia, Grécia e partes da Itália, quando perceberam que os condutores aumentam o volume do auto-rádio para abafar as ordens da maquineta, pois é uma vergonha para qualquer macho receber instruções e direcções, mas que, mesmo assim, ainda os ajuda muito de vez em quando.
Se fizermos o paralelismo para com os governantes, também o português médio escolhe a TSF para o ajudar a passar o tempo perdido nas filas de trânsito. Vai, assim, ouvindo as notícias sobre mais medidas impopulares e as repetidas entrevistas aos candidatos a qualquer cargo público, que se misturam com as tais ordens de viragem à esquerda ou direita. Podia ser confuso, mas não é. O português é teimoso e sabe a direcção que deve tomar, independentemente se for ou não a melhor para o resto dos condutores, passageiros ou restante população. E mesmo se a voz repetir que tem de voltar para trás logo que possível, ele está-se borrifando. Só lhe interessa o seu percurso e a sua noção do que é verdade. Que se dane se é melhor virar para um dos lados para chegar mais depressa a uma solução, leia-se destino. Se ele decidiu desde pequenino que vai virar à esquerda, virará sempre à esquerda, mesmo que o GPS lhe diga e repita que pela direita é o caminho mais acertado. O problema são as rotundas...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Manual de etiqueta em como ser-se bom vizinho



Vizinhos barulhentos...
Eu tenho.
São vários dentro de uma casa que de pequena nada tem.
Poderiam escolher uma das múltiplas divisões para gritarem uns com os outros. Mas não.
Escolheram a janela mais próxima da minha varanda para sala de estar, onde reuniram todos os apetrechos modernos: Televisor, Playstation e Singbox, Computador e colunas, etc.
Todos os dias, pelas 18h, dá-se início a um festival rocambolesco e histérico. Geralmente dura duas horas, até a telenovela começar, ou outro qualquer programa de teor mais popular.
Esta família conta com a sogra, o marido escanzelado, a mulher e mãe que deve ter sido catita antes de ter casado e parido, e três fedelhos.
São os fedelhos que fazem barulho. O mais velho, que saiu à avó, sugere não ter a totalidade da capacidade intelectual. Mas quando oiço as conversas no messenger, ao máximo que as colunas suportam, percebo que é somente muito parvo. Este é quem mais grita. Sobre tudo, futebol, jogos de computador, porque não gosta da comida, não gosta da escola, não gosta dos professores, enfim. Só gosta, e muito, do Sport Lisboa e Benfica.  Aliás, o momento glorioso da sua vidinha é um jogo transmitido pela Tv. Aí, pasme-se, faz-se um silêncio sepulcral naquela habitação.
No meio está outro fedelho. Saiu ao pai, de tão franzino e irritadiço. Já está de mal com a vida e ainda não concluiu a primeira década. É este que absorve mais de metade dos watts difundidos pelo mano. E ficar surdo não lhe vai servir de nada, pois também deverá ficar desfigurado, já que, de vez em quando, lhe é atirada qualquer coisa dura. E algumas fazem um som surdo, nada quebradiço como um vidro no chão, seguido pela choradeira que abafa qualquer apito de comboio ou alarme para evacuação de uma fábrica.
Os diálogos entre os manos são incompreensíveis. Comunicam por gritos, uns mais prolongados (como a raiva e o choro), outros mais incisivos (ordens, calão).
Nunca, mas mesmo nunca, lhes ouvi uma conversa.
Os pais só encontram forças para tentar calá-los, quando se apercebem da minha presença na varanda, fumando um cigarro ou tentando apreciar o meu rio. Mas tenho de estar lá fora! Convenhamos que, quando chove ou faz frio, não é agradável e eles também não olham para fora, portanto, a gritaria continua.
No fim da tabela está a coitada da catraia. Saiu à mãe. Não lhe oiço a voz nem lhe vejo o tímido sorriso quando me encontra na rua. Mas, porque há sempre um mas, faz-se ouvir a alto e bom som das 18h às 19h, através do sistema de karaoke e das colunas acima referidas, que conseguem, inacreditavelmente, piorar o som das músicas da Floribela, distorcidas nos graves e médios. A júnior canta com toda a força. Já conhece as letras de fio a pavio, gosta de repetir os temas e não parece, nem ninguém da alcateia, importar-se com o inaudível som da distorção.
Todos nós temos vizinhos.
E estes têm um rafeiro de porte médio.
E o que é que os cães fazem? Imitam os donos. É ou não é?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A extraordinária arte da escolha no acto da compra.



É cada vez mais complicado viver neste mundo digitalmente moderno.
Se ainda ontem telefonávamos uns para os outros através de um aparelho pesado, preto e com 10 buracos numa circunferência móvel, hoje...

- Boa tarde, quero comprar um telemóvel!
- Muito bem, caro cliente. Tem alguma necessidade específica?
- Sim, telefonar...
- Posso indicar-lhe um modelo com sistema operativo Android?
- Pode.
- Ora aqui está um, mas vai na versão 2.1. A 2.2 está mesmo a saír.
- E por aí adiante, não é?
- Sim. Pode também optar pelo sistema proprietário da Blackberry.
- Mhhhh...
- Ou então os Nokia. Eles usam um sistema também próprio, o Symbian.
- Não gosto de Nokias.
- Pode então esperar um mês, pois vão ser lançados terminais com o Windows 7?
- Tive um com Windows 6.1 e não gostei.
- Pode sempre escolher um iPhone, é fantástico e totalmente diferente.
- Não pago 1000 euros por um telemóvel....
- Bom, tem todos os outros disponíveis, com interfaces de cada marca, uns touch, outros com teclado qwerty ou muitos outros mais simples. Temos também terminais com dois cartões sim, uns musicais, outros com grandes aptidões fotográficas...
- Olhe, vou pensar. Obrigado.

Fora da loja, retirei o actual do bolso. Olhei-o bem. Ainda é bonito, tem um ano. Possui leitor de música, câmara fotográfica, AGPS, Wifi, Bluetooth...
Mas porque carga de água entrei no estabelecimento?

A partir de hoje, nova vida no mesmo blogue.

É verdade.
Não mudei de vida (ainda) mas vou mudar este blogue, simplesmente alargando-o a outros interesses. Vai passar a ser uma completa confusão.