sábado, 20 de março de 2010

cento e trinta e um

Ontem tive que me vestir como as regras impõem, ou seja, socialmente correcto com calças cujo tecido condiz com o casaco. Mesmo assim, recusei a gravata o que é muito moderno e tal. Chegado ao local do convívio, todos me olharam e comentaram "estás tão bem vestido porque é que não te arranjas assim todos os dias?". Ora bolas, será que é difícil as pessoas perceberem que uns jeans e uma camisola são bem mais confortáveis que um fato? E se eu escolhi uma vida "artística", alguma da percentagem teve exactamente a ver com a possibilidade de me vestir como bem quero e não como me obrigariam por contrato ou dress code. Um áparte: o que me rio quando vejo as pessoas sorridentes à sexta-feira por causa da hipótese "casual"...
Mas escrevo isto porque ontem ouvi uma conversa entre alguns presentes, talvez por eu estar de fato, talvez porque pensavam que eu não estava a ouvir. A questão tinha a ver com o bom aspecto de um homem vestido com rigor ao invés de um homem que, como eu, prefere estar mais à vontade e, a meu ver, bem mais catita, moderno e original.
Fiquei atordoado. Então não é que as pessoas pensam que um homem de fato gasta mais dinheiro em roupa que um homem casual? Mas será que é possível estarem assim tão enganadas? Um fato é um fato, pode custar entre 100 a 500 euro. Depois uns sapatos foleiros pretos e de verniz, uma gravata, uma camisa branca e, presumo, umas cuecas e um par de meias. Ora tudo junto e sem poupar muito faz-se por 300 euro. Agora façam as contas a umas levi's (100€), uns Merrell (120€), boxers e meias (50€), cinto de cabedal (50€), uma t-shirt (20€), um casaco leve (150€) e etc. Já é bem mais oneroso e sem entrar em grandes marcas ou luxos. Mas agora é que são elas: um homem usa o mesmo fato uma semana inteira e ninguém aponta isso. Mas um tipo como eu, se surgir dois dias seguidos com o mesmo calçado ou casaco, é olhado com desdém. Portanto a roupa dita casual sai 700% mais cara que um fato que "fica e veste" bem.
Concluindo, o que parece não é.
Certo?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Cento e trinta

Se houve alturas em que pensei que a minha já não tão jovem idade me atiraria à pobreza e solidão quando as minhas profissões fossem tomadas pelas castas mais jovens, hoje percebo que não é nem vai ser assim.
Tenho tido a sorte de acompanhar a vida de malta nova numa base quase diária, malta ainda no liceu e que vai ser o futuro deste nosso país e mundo. O que tenho visto e ouvido dá-me a noção que o país ainda vai precisar, e muito, das gentes da minha geração.
É extraordinário revisitar as palavras do meu pai e mãe quando eu estudava e tinha dúvidas numa qualquer matéria. A resposta era automática: "Filho, eu aprendi isso tudo e mais alguma coisa na 4ª classe, mas que raio de escola é a actual?" Ficava a olhar para eles sem perceber a necessidade de saber de cor todas as estações e apeadeiros dos Caminhos de Ferro, assim como todos os rios e afluentes lusitanos. Mas lá ia aprendendo alguma coisa, nem que fosse por obrigação, como saber na ponta da lingua os tipos de nuvens, a tabela periódica, os reis e seus feitos, os poetas e ficcionistas, e tantos etc.
Hoje olho para esta nova geração e não evito exclamar "Mas eu aprendi isso tudo e mais alguma coisa na 4ª classe, mas que raio de escola é a actual?"
Só que neste momento, a malta jovem nem ouve o que digo, pois está de phones na cabeça e a teclar sms.