quarta-feira, 22 de junho de 2011

O arrastanço da desenvoltura vertical


Indissociáveis do Verão, companheiras diárias e noctívagas, de várias cores com fundos lisos ou estampados e, pasme-se, até com salto alto, as chanatas são dos objectos mas democráticos e globais da actualidade.

São usadas por ricos e pobres, homens, mulheres e crianças, novos e velhos, na cidade, praia e campo, enfim, são pau para toda a obra.
Então, porque não gosto delas?

É uma questão que se impõe, esta minha aversão às ditas, pois penso, aliás, tenho a certeza, que não me encontro sozinho. Confesso que tenho dois pares, um típico brasileiro de cor cinzento-mate e outro mais moderno que tem pano para colocar entre os dedos, ao invés de plástico, truque que me foi passado por um amigo que as usa 300 dias por ano.

O meu problema em relação às chanatas é o andar com elas. Não sei como fazê-lo sem arrastar os pés e modificar o passo e a postura. Ao fim de uma hora com as ditas, estou com os gémeos desgraçados e a coluna desfeita. Depois olho em redor e observo a maior parte das senhoras a caminhar sobre elas como se estivessem calçadas ortopedicamente. E todas me dizem que sentem um enorme conforto e que as usariam todos os dias, se lhes fosse possível.

Entretanto, massajo os meus doridos músculos e continuo a achar que estas duas peças de plástico não podem fazer bem à saúde. Esta começa nos pés e a medicina tradicional chinesa, entre outras, aposta forte no conhecimento da planta dos mesmos para tratar maleitas do corpo todo. Ora se sinto, imediatamente ao segundo passo, que faço um esforço danado para conseguir dar o terceiro em frente, arqueando o pé e apertando os dedos para que o calçado não me escape, a coisa não pode ser boa. E o corpo, através dos olhos, procura uma solução imediata, seja perceber que o chão pisado pode ser tomado descalço, ou encontrar um par de sapatos dignos desse nome.

Depois há outra coisa que me salta aos olhos e que, realmente, abomino: é ter de ver as unhas pintadas dos pés. Mas que raio... porque é que as pessoas pintam as unhas e ainda por cima dos pés? E aquelas que fazem pendant com a mala e acessórios? Vá-se lá compreender a noção de estética...

Porém, existe uma coisa pior que a chanata: chamam-lhe sandálias (ou sandalochas) e, dentro do género, um modelo específico que não tem biqueira e mostra os dedos dos pés. MEU DEUS! Ainda hoje tenho suores frios quando relembro os primeiros cámones que aterraram no parque de campismo que destruiu para sempre a “minha” praia algarvia. Todos sabíamos que pernoitavam no dito parque, porque as peúgas brancas que traziam calçadas estavam pintadas da cor de ferrugem, exactamente aquele castanho avermelhado das “estradas” de terra desses malditos parques.

E uma questão que nunca consegui resolver passa exactamente por isto: porque carga de água se usam peúgas com sandálias, especificamente aquelas todas abertas e sem frente? Sempre pensei que as aberturas servissem para arejar os pés, mas isso deixa de fazer sentido com a utilização de meias... é ou não é?
Só por causa disto, e porque é impossível usar meias, estou disposto a oferecer às chanatas mais uma hipótese. É que do mal o menos... mas, por favor, não pintem as unhas lá de baixo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A arte da pendura no penduranço



Estamos pendurados!

Aliás, sempre nos pendurámos em alguém ou a qualquer coisa, desde os famosos tempos das descobertas aos dinheiros avançados por supra-entidades. Continuamos a ser mestres nesta acção embora, a cada ano que passa, menos optimistas de que no futuro encontremos outros ramos ou alturas.

O penduranço faz parte do modus vivendi lusitano. São os clientes que deixam o pagamento pendurado, os artífices que largam o trabalho a meio, os desencontros, a bateria do carro, o médico que folgou precisamente no dia da nossa consulta, o reembolso do IRS, o telemóvel que crashou, o elevador que avariou, e um sem fim de pequenos azares.
E o que fazemos quando ficamos pendurados? Em vez de olharmos em frente e tornear a situação, achamos mais fácil e prático usarmos esse percalço como expediente para pendurar o próximo.

Existem outros tipos de penduranços largamente comentados pela populaça: o jogador de bola que pendura as botas, o aperto de mão que alguém recusou, a miúda da internet que falhou o encontro prometido, a boleia que não se concretizou. Mas nestes casos, os portugueses encontram sempre forma de se justificarem aos que ficam pendurados por uma explicação: coitado, já não tinha pernas; se eu fosse o outro também não o cumprimentava; ahhh, grande fdp; o sacana vai pagar-mas.

Agora que estamos a cair na real, olhamo-nos com semblante carregado, pois sabemos que até os que nos agarravam também vão ficar pendurados pelas próximas e urgentes modificações público-privadas. E agora?

Agora olha, há que mudar de comportamento e começar a trabalhar. A situação ideal seria entregar os beemers, os benz e os audi aos reais donos, locadoras e bancos. Permitirmo-nos baixar a crista e utilizarmos a excelente rede de transportes públicos que algumas cidades oferecem. Comprar ou alugar uma bicicleta ou motociclo. Poupar nas inovações tecnológicas, pois todos temos o telemóvel de 1995 ali encostado que funciona na perfeição. Preferir a marmita às máquinas automáticas, o tasco do Zé com refeição completa a 6,5€ em vez dos 20 que caem no visa, andarmos a pé numa cidade que, já sem carros, ofereceria os passeios aos peões, reservarmos algum dinheiro para eventualidades em vez de fins de semana no solário ou numa estância de Verão. Ele há um sem número de aplicações.

Seria até fácil resolver esta questão da banca rota se todos pensássemos da mesma forma e tomássemos a decisão. Mas ninguém vai dar o primeiro passo pois sabe, de antemão, que os restantes o vão deixar... pendurado.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dodot dodot...


Tenho conta no Facebook há muito tempo e, como vivi várias vidas, grande parte dos meus “amigos” são mesmo pessoas que conheci ou com quem trabalhei ao longo das décadas. 
Logicamente que, conforme os interesses, vou aceitando ou procurando novos contactos, situação que me tem levado a tirar mais conclusões sobre as redes sociais (visto que estou em várias, do Linkedin ao Star tracker).
Uma delas é o facto de, lá fora no resto do mundo, de África ao Brasil, passando pela Austrália e até mesmo Inglaterra, as pessoas não ligarem ao FB como nós, portugueses que gostamos de ser afamados como o povo que tem mais telemóveis que habitantes.
Os contactos profissionais não cabem neste mundo virtual. As coisas ainda são feitas à antiga, ou seja, através de telefone ou cara-a-cara. Portanto, é enervante esperar por uma resposta vinda por email ou através dos posts sociais. Deste modo, e com a impossibilidade de se viajar para os confins do mundo para tratar de assuntos, há que adquirir aqueles cartões telefónicos que se vendem nas tabacarias e gastá-los até ao último cêntimo. Confesso, é dinheiro bem investido. 
O mundo, afinal, não é tão gadget freak como as Fnacs nos querem transmitir e “impor” com as sucessivas vagas de novidades tecnológicas.
Então o que faz um Presidente da República escolher este meio como o principal para a divulgação de opiniões? Ou as marcas perceberem, tarde e a más horas, que a sua sobrevivência passa pela rede? Ou jornalistas sem poiso debitarem bitaites azedos a todas as horas do dia e da noite? E os inúmeros convites para festas, lançamentos, inaugurações, etc?
Quem lhes liga?
Bom, temos notícias de festas de aniversário que conheceram a adesão de centenas ou milhares de “amigos”, porque o/a aniversariante fez o convite online. Também conhecemos o sucesso mediático que agrupou milhares de jovens, da Síria a Portugal, que se juntaram para protestar contra o imposto.
Ou seja, por um lado, as redes sociais falham na sua comunicação global, mas por outro começam a ser um agregador de vontades. Em que ficamos? Será uma questão geracional? Ou seja, dos 10 aos 30 vive-se esta funcionalidade como complemento de vida e dos 30 aos 60 sabe-se de tudo mas não passa de um agregador de feeds noticiosos e fait-divers?
Confesso que é um bocadinho estranho metade das pessoas não passarem sem elas e a outra metade viver sem elas.
De que lado vocês estão?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Repto de Alarme aos Progenitores




Hoje acompanhei a minha senhora à escola de uma das pirralhas, a fim de discutir uma série de situações que nem o ME soube esclarecer previamente ao telefone.
A presença dos três directores máximos da escola, fez-nos logo perceber que a defesa dos seus interesses iria ser muito lógica e totalmente baseada em verdades que só eles conhecem.
Enfim, mais um esquema público-privado que vai enchendo, e bem, os bolsos de quem foi bem mais matreiro que eu e, logicamente, não tem qualquer dificuldade em assumir-se como mais um chico-esperto que minou, para sempre, este país.

À porta do estabelecimento, quedavam-se várias pitas em alegre cavaqueira, todas de cigarro na mão e nenhum livro, mochila ou material de estudo em seu redor.
Nos cafés defronte, a mesma situação, com a multiplicação de jovens “estudantes”. Curiosamente, no interior do estabelecimento onde decorriam as aulas, vislumbrei um punhado de alunos, mas nem todos na mesma sala. A minha companheira virou-se e mostrou o seu profundo desagrado com tudo, desde a politica educacional, à falta de integridade, honestidade, verdade, competência e honra.

Acalmei-a o mais que pude, expliquei-lhe que, pelo menos, as pirralhas ainda têm progenitores e novos companheiros dos progenitores que tiveram uma educação esmerada e uma escola bastante rigorosa. Isso deve valer para alguma coisa, pensei para os meus botões.
Ela mostrou um ligeiro sorriso de esperança e pediu para irmos para casa.

Chegados, percebemos de longe que o jovem do prédio do lado direito, estava em casa. Como? Muito simples: este puto deve ter uns 18 ou19 anos mas fala e comporta-se de uma forma que eu, e somente eu, penso revelador de um ligeiro atraso. O comportamento social, pois tem dois pais e dois irmãos mais novos, reforça esta minha conclusão, pois é impensável um puto fazer gato/sapato de quem está em casa e, pior para os vizinhos, colocar no máximo (que as rafeiras colunas de computador permitem) a sua música preferida que é, imagine-se, rap. RAP, por amor de deus... E não, ele é de tez muito clara.
O pior não é um puto ouvir aos berros esse sub-género mus... musi... music... enfim, essa construção de beat em loop com uns dizeres gritados em cima. É este puto ouvir a mesma música (em loop mas nunca chegando ao final, pois isso requer paciência e a noção de uma conclusão) até à exaustão. Dele, não será, mas é a de qualquer ser humano que ouve Música.

Pela gritaria que lhe oiço, é este puto que domina toda a família, e que ainda manda vir com os pais porque “tásver, tásver, isso de pintar carros não é pra mim” ou “tásver, tásver, o Benfica próanu ékié”.
Do bairro inteiro, sou o único que, já desesperado, vou à varanda e comporto-me como ele, debitando com a minha garganta e pulmões, algumas verdades que ele, decerto, não entende. Mas pelo menos, roda o botão do volume para a esquerda e de vez em quando, surge um dos progenitores logo atrás a sorrir uma ligeira desculpa. Eu não sorrio de volta, mas olho para a minha companheira e digo-lhe uma verdade, muito importante, que as pirralhas dela, mesmo com algumas parvoíces próprias da adolescência, não conseguem baixar a este nível social e que, graças a elas, o mundo pode ainda ter alguma safa.

Menos enervada, foi ver os emails e deparou-se com mais uma conta do estabelecimento comercial, ops, de ensino, que tínhamos acabado de visitar.
Aí não aguentei, agarrei nas chaves do carro e fiz-me à estrada!

Na minha tresloucada mente só uma questão: “quem é que dos mandantes desta porcaria tem a coragem de me dizer, na cara, que anos atrás gritou aos pais que não sabia pintar carros?”