sexta-feira, 25 de setembro de 2009

noventa e três

Uma simples frase de alguém pode reacordar-nos algo que estaria perdido para todo o sempre. Foi o que me aconteceu agora ao ler um dos muitos blogues que gosto de seguir: alguém quer pisar uvas. O que me foi fazer... relembro agora, cada vez com mais saudade a cada segundo que passa, as temporadas que passava na terra do meu pai (que tem dois éles e um ipsilon de história antiga mas esquecida pelo tempo e gentes) quando era muito muito catraio.
Tinha a companhia de primos e era uma algazarra empoleirar-mo-nos nos pequenos espaços livres das carroças puxadas por bois, cheias de uva acabadinha de apanhar. Nesse caminho até ao lagar, comiamos quilos de uva preta pequenita e depois ajudavamos na pisa. Normalmente o resultado era um extremo e sonolento (quase embriagado) cansaço infantil e uma forte diarreia, mas no dia seguinte ninguém nos proibia a mesma viagem. Nessa mesma altura comia queijo de cabra acabadinho de fazer, bebia o seu leite e adorava ir à cave de um outro primo onde a família se juntava para grandes conversas regadas com vinho da pipa, presuntos pendurados a curar, outros cortados com mestria, queijos vários e um pão que sabia à vida.
De vez em quando bebia um copito de vinho.
E de vez em quando era muito, mas muito feliz.

5 comentários:

maria teresa disse...

Como é enternecedor relembrarmo-nos de coisas de infância, as minhas não são idênticas às suas e "invejo-o", sou uma citadina (não por opção) de 5ªgeração, no entanto também tenho recordações, de episódios passados com os graúdos e os miúdos da família, dessa idade que me fazem sorrir quando me surgem na memória.
Fui sempre citadina, nascida e criada, num local de Lisboa onde havia muitas quintas e isso libertou-me de certo modo de me sentir "prisioneira". Por desde muito nova sentir um apelo pelo campo, senti necessidade de arranjar um Refúgio numa aldeia muito perto da cidade, onde estou perto do mar e da serra

mf disse...

Também pisei uvas... E andei no carro puxado pelos bois do meu avô. E trepei às árvores que ajudei a regar. E apanhei fruta. E corri atrás das galinhas. E sentei-me ao calor do borralho. E comi pão acabadinho de cozer. E tantas outras coisas... :)

Unknown disse...

Eu também vivi episódios semelhantes mas o que mais recordação me deixou foi uma descamisada de maçarocas de milho na quinta duma tia em Trás-os-Montes.....eu era muito pequena, talvez uns 5 anos, mas ainda me recordo de estarmos ali sentados e de vez em quando lá aparecia a maçaroca diferente.....na altura não devo ter percebido nada mas é uma recordação muito terna que guardo.
Um abraço

redonda disse...

Eu nunca fui pisar uvas, mas quando era criança nas férias iamos à casa dos meus avós paternos na aldeia, com cheiros, sons e luz diferentes e uma burrinha ou mula que morava por baixo ao lado.

volteface.book disse...

Ora aqui se vê porque é que o farmville tem tanto sucesso :)
Ao fim e ao cabo, temos alma de agricultores.