quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A greve é só para animais racionais...



Imaginemos a vida na terra azul se, num dia, alguns animais decidissem fazer uma greve geral.
Por exemplo, as abelhas.
Um dia de esquivanço laboral, faria com que o equilíbrio terrestre conhecesse sérios danos. A polinização falharia e, consequentemente, toda a natureza sofreria o abalo, com a agricultura em destaque.
Mas as abelhas são bichos trabalhadores, habituados a uma férrea disciplina.
Não estou a vê-las aderirem às ordens sindicais.

Existe um outro animal que é repelente para muitos humanos e adorado por outros tantos. A osga! É verdade, essa lagartixa de várias cores e que surge geralmente agarrada à parede exterior da casa bem perto de uma lâmpada acesa, é um dos nossos principais aliados para a qualidade de vida. São elas que comem as traças, baratas, mosquitos, moscas e, até, aranhas, que tanto nos incomodam.
Ora se as osgas - principalmente a bem portuguesa osga-moura - optassem por manifestar-se contra os nossos maus tratos e não se alimentassem durante 24h, imaginem a noite mal dormida que sofreríamos, devido aos constantes zumbidos e dolorosas picadelas.
Também não as vejo em piquetes de greve.

E as vacas leiteiras? Um dia apenas sem produzirem, esgotaria os stocks de leite, queijos e iogurtes, bases alimentícias diárias para milhões e milhões de seres humanos e outros animais. Toda a pirâmide alimentar se inverteria, os mais petizes teriam que ver a mãe a misturar o pó Nido com água, os jovens ficariam sem a dose diária de cálcio, e os mais idosos não poderiam demolhar a torrada ou bolacha Maria.

E o que dizer do peixe, que se recusaria a ser apanhado? Basta ir ao supermercado a uma segunda feira, para perceber que a frescura e a abundância se escapariam por entre os nossos dedos.

Poderia continuar a enunciar a Arca de Noé, mas parece-me que bastam estes exemplos para se perceber que fazer greve não é para todos.
Há que reflectir nesta verdade, tomar alguns apontamentos, elaborar estudos científicos e encontrar verdadeiras soluções para atacar os graves problemas que alguém provocou e alimentou.

Se continuarmos nestas verdadeiras andanças, de piquete em piquete, teremos o mesmo fim que os grandes dinossáurios... e nem será preciso um degelo.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A idade do armário que de madeira passou a contraplacado.



É interessante falar, por vezes até conversar, com petizes que entraram na idade do armário.

Se à minha época, esse armário era a figura estilística encontrada para descontar os silêncios, as permanências exageradas no quarto e a cabeça cabisbaixa às horas de refeição, hoje as coisas mudaram um bocadito.

Os petizes andam enraivecidos!

Terão razão? O mundo mudou assim tanto?
Bom... talvez.
Antes, os traquinas mostravam com evidente orgulho as primeiras penugens faciais, sempre ridículas e imberbes.
Aqueles parcos e afastados pelos, entre o nariz e o lábio superior, formalizavam a passagem para a idade adulta.
O que fazem hoje? Ao primeiro sinal de crescimento de um qualquer pelo em qualquer local do corpo sem ser no alto da cabeça, vivem a urgência de rapá-lo, queimá-lo, puxá-lo, destrui-lo.
Se antes a mãe e o pai não permitiam qualquer desvio no guarda-roupa adequado à sua classe social, como por exemplo os Le Coq Sportif, os jeans Wrangler, Lee ou Lois, o pólo Lacoste ou Coronel e o pullover Sidney numa gama média/alta, hoje os putos mandam nas suas escolhas. Ou pensam que mandam, pois pelo que parece, o andar vestido com calças que caem até aos joelhos, sweats com capuz, ténis sem atacadores e phones constantemente nos ouvidos, são uma espécie de fardamento obrigatório, como se de uma bata ou bibe se tratasse.
Conclusão: nem antigamente nem agora a vida foi e é fácil. Temos um empate.

No campo feminino, as modas surgiam e desapareciam em catadupa. Quem viveu o liceu nos 70/80, nunca se esquecerá das calças de bombazine extremamente justas até ao joelho que depois alargavam até tapar o calçado. Ou das botas de pele de carneiro, os anoraks e kispos.
Hoje elas dizem-nos... aliás, gritam-nos, que têm de ter aquela roupa, e aquela, e aquela outra, e mais aquela e morrem se não tiverem aquela ali da montra. O problema é que a montra agora é global - chamam-lhe internet - onde encontram a cor que a amiga não tem e o modelo que ainda não chegou a Portugal.

Em termos de vivência sexual, as coisas também “mudaram” muito. Se antigamente havia as curtes, hoje há os enrolanços. A actividade sexual era vista como o passaporte para uma atitude mais adulta, hoje é “a” questão que engloba todas as conversas, sms e chats. Antes, era impensável ter mais que um “namorado”, hoje é impensável ter apenas um. É de cota, isso.
Conclusão: nem antigamente nem agora a vida foi e é fácil. Temos um empate.

O mais interessante é reparar nos actuais petizes quando não conseguem a roupa, o MP3, o telemóvel com redes sociais, o bilhete para o concerto ou a saída nocturna durante todo o fim de semana.
Chegam a casa, remetem-se e nos para o silêncio, permanecem exageradamente no quarto, forçam-nos a aceitar a cabeça cabisbaixa às horas de refeição e respondem mal.

É essa a única diferença para connosco: é que são mais arrogantes, malcriados, altivos e parvos, não conseguindo aceitar que nós já passámos por tudo isto.
O que mudou foi o simples acto de ouvir.
Nós ainda ouvíamos os conselhos ou sermões.
Eles ouvem os decibéis que abafam qualquer bom senso.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Manifesto contra os projectores de vox populi



Existem dois tipos de manifestações: as sociais e individuais.
Confesso a minha aversão ao primeiro grupo. Não gosto de manifs, não as frequento, não as defendo e, geralmente, estou contra quem as promove.
Uma manif é quase sempre nacional, como se replica pelos altifalantes, e geralmente engana o associado. É raro resolver alguma coisa, provoca desacatos, alguns tumultos, muitas reportagens televisivas e erros aritméticos.

Se por um lado as centrais sindicais promotoras afirmam sempre que Portugal inteiro aderiu, por outro estão os dados estatísticos que demonstram que os números são exagerados em muitos pontos percentuais.

Mas, realmente, o que é uma manifestação anunciada e agendada?
Para os mais desesperados, é uma forma de gritar, de mostrar descontentamento. Para muitos que ainda têm emprego, é um passeio, muitas vezes combinado como se fosse uma romaria ou uma flashmob.
“Amiga, vamos à manif?”
“Vamos pois. Tenho é de ir comprar uns trapinhos novos. Queres vir comigo e depois lanchamos no Chiado?”
“Olha, belo programa. Deus queira que não chova, pois já marquei o cabeleireiro.”

Uma manifestação deveria contar para alguma coisa. Para mudar qualquer coisa. Ora se os aderentes votam sempre nas mesmas cores, mesmo depois destas serem o principal motivo da desgraça, qual é o interesse da caminhada?
E porque é que as frases de ordem são as mesmas desde a revolução?
Será a repetição a fórmula encontrada para provocar uma mudança de mentalidades? E o que dizer daquele som fanhoso e metálico dos horrorosos altifalantes que ampliam as vozes de quem os segura?
Bolas, a tecnologia evoluiu...

Mas há manifestações que me agradam.
As de carinho estão em primeiro lugar.
Que bom recebê-las e oferecê-las de volta.
Essas sim, mudam alguma coisa: fortalecem uma ligação, alimentam uma paixão.

Ainda não sei se a minha cara metade vai à manifestação anunciada como a maior de sempre. Mas se for, uma coisa prometo!
Em vez de gritar palavras de ordem, como “Ainda acreditas nessa gente?”, “Mas porque é que ainda vais em contos de fadas?” e tantas outras, vou aguardar o seu regresso, manifestando o meu carinho com um chazinho bem quente, uma manta aquecida e pastilhas para a garganta.

Ela manifestar-se-á agradecida, tenho a certeza absoluta!
E depois de uma noite bem dormida, quem ganhará alguma coisa no dia seguinte... serei eu.




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma semana em que a animação é social.



Durante estes dias, os egos dos facebookers transformaram-se em retratos que animaram a sua juventude. Encontramos de tudo, desde o Speedy Gonzalez até uma ninfa do Manara, várias Mafaldas que acompanham inúmeros Corto Malteses.

O Facebook está uma animação!

Tudo começou com uma mensagem simples que muitos reproduziram, um pedido para alterar a imagem normal para uma qualquer que definisse a tenra idade de quem escreve neste meio social.
A princípio, confesso, não acreditei que fosse um sucesso, mas neste preciso momento, raro é quem não seguiu a ordem.

Ora como também fui um deles, recebi mensagens pouco abonatórias de quem não percebe nem entende este momentum, como também outras que já me obrigaram a mudar de personagem.
O ter escolhido o vilão Olrik da saga Blake & Mortimer, encheu a minha caixa postal com pedidos de esclarecimento. Para não perder mais tempo a explicar quem é o sujeito, alterei para o Homem-Aranha, para sempre o meu personagem preferido da gama super heróis. Finalmente, decidi colocar a minha própria cara... mas animada.

Confesso que me tenho divertido com toda esta história. Não porque o FB está mais colorido, não porque deixei de saber imediatamente quem coloca mensagens, mas sim porque existem lutas tremendas entre uma certa intelligentsia lusitana.

Há agora uma luta de classes, a que nos remete para figuras globais (Tintin, Lucky Luke, Mafalda, Marretas e etc.) e a que nos demonstra que a BD sempre foi uma arte mais adulta (Ran Xerox, Manara, Moebius, Rotundo, etc.).
É este segundo grupo que trava uma guerra sem quartel, demonstrando a tal cultura que sempre os diferenciou quando usavam botas ortopédicas e óculos de massa.
Num repente, os geeks dos anos 70 são agora pintas nos 10.

É uma vingança, mas cheia de animação.

Confesso um sorriso.
E confesso também uma boa gargalhada quando alguém se lembra do Marsupilami ou do Ric Hochet, assim como do Metabarão ou do ciclo de Cyenn.

Qual é o mal disto e porque é que algumas pessoas ficam tão enervadas, não querendo embarcar neste mar de traços a carvão e cores abertas, sonhos criativos e mundos paralelos?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um doce que vem com o frio mas que aquece quem não o quer.



Tenho para mim que os doces são guloseimas que, na medida certa, fazem um bem danado à alma, ao mesmo tempo que alimentam os sentidos e acalmam um certo tipo de urgências.

Também sou homem para gostar de comer um chocolate de vez em quando, mas prefiro gelados. Adoro gelados, de qualquer tipo ou marca, vindos em pacote, com pauzinho ou bolacha. Bombons é que dispenso. E afasto-me de alguns que só surgem na pré-época natalícia. É que não confio na pretensa sazonalidade.

Passo a explicar: se posso comprar e comer um chocolate em qualquer altura do dia ou do ano, porque raio existe uma marca que coloca dois dos seus produtos à venda apenas nesta altura? E, para além de repetir o conceito já gasto do Ambrósio até à exaustão, massacra-me com a mensagem de que só surgem nesta altura porque sim, porque estão na mais perfeita das condições, porque não são compatíveis com tempos mais encalorados, porque defendem o consumidor...

Porque é a sua publicidade tão agressiva e omnipresente? Porque raio é este bombom de aspecto fatela, com o embrulho douradinho e novo-pobre, uma obrigatoriedade de consumo? E porque tanta gente diz que gosta quando, na verdade, não o suporta? E porque é que só se faz publicidade a este, esquecendo-se o seu mano menos mau, que até tem álcool e tudo?

As plásticas embalagens do produto, talvez por apresentarem um preço não muito elevado, têm ainda um outro papel na nossa vida: destronaram as peúgas brancas oferecidas pela avó na altura das festividades. Natais houve que vi, incrédulo, alguém oferecer dezenas de embalagens idênticas a todos os presentes. E sabem que mais? Também as levou de troca, como se de comércio directo se tratasse.

Ora se alguém oferece 12 caixas e recebe outra dúzia, não vai ter tempo de consumi-las até ao Verão. Mais a mais porque, secretamente, não as gosta. Sendo assim, ou se arma em alarve e come tudo para não deitá-las fora, com a consequente indisposição e aumento de colesterol e triglicerídios,  ou arruma-as na prateleira mais acima e esquece-as até à limpeza semestral.
Quando as redescobre, apercebe-se, cheia de calor e afrontamentos e no meio do pó levantado, que, afinal, estes bombons retêm o mesmo aspecto e, quiçá, o mesmo sabor. Conheço quem experimentou e garanto que não pereceu.

Portanto, a questão da sazonalidade poderá ser... falsa! Ou seja, publicidade enganosa. Uma falcatrua das antigas.

Só acredita quem quer.

O meu trabalho, que acorda uma dúvida no consumidor, está, assim e aqui, feito. Um simples alerta para esta verdade e que esconde um singelo pedido: não me ofereçam isso no próximo Natal. Lixo em casa já eu tenho... muito.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De mão em mão e de boca em boca até ao regresso.



Há qualquer coisa de muito estranho no manuseamento de tupperwares. Quem de nós já não comprou, ou recebeu de oferta, um conjunto dessas fantásticas caixinhas plásticas, multicolores e com tampas simples, com ou sem ventilação?
Quantos de nós já não as usou e reutilizou vezes sem conta, confiando-lhes o preparo gastronómico que sobrou da refeição? E onde guardamos as fatias de flamengo ou fiambre? E a sopa da mamã? E tantos etc.

Os tupperwares são um ajudante de campo, um braço direito sempre às ordens. São divertidos, funcionais e têm dimensões que nos facilitam a sua arrumação ao lado ou no topo de outros que contêm restos da nossa vida alimentar.

Sendo assim, porque não os tratamos com o máximo respeito e carinho? Porque carga de água os emprestamos à visita que comerá parte das sobras do jantar de hoje, que tanto agradeceu e comentou, ao almoço de amanhã?
Porque é que os entregamos às cegas, confiando que um dia, o mais depressa possível, regressarão ao nosso lar para reconquistar o seu lugar de direito no armário junto ao fogão?

A questão obrigatória impõe-se: sabem onde estão as dezenas de tupperwares que emprestaram ao longo da vida? E de quem são aqueles dois que temos para ali arrumados? E estes, que a mãe jura que são nossos e a que já nos fartámos de responder que nunca na vida compraríamos caixas com desenhos e florezinhas estampadas...

Não vale a pena.
Os tupperwares são como os isqueiros Bic. São nossos, dos amigos, dos familiares. São de toda a gente, não pertencem a ninguém. Visitam casas e vidas. Estão aqui e ali durante um tempo, nunca muito longo, e desaparecem da nossa vista para sempre.

De vez em quando, e com muita sorte, redescobrimos o Bic esquecido ou guardado longe da nossa vista, numa segunda e muito próxima visita. E o que fazemos? Escondemo-lo imediatamente no nosso bolso, com vergonha de sermos apanhados, como se estivéssemos a roubar o pertence de outrem.

Saímos com um misto de vergonha e conquista, apalpando a algibeira onde está resguardado o isqueiro. Mas, lá no fundo no fundo, o que queremos mesmo é apanhar adormecidos os donos da casa, e assaltar o armário junto ao fogão, para escolher, um a um, os 14 tupperwares que lhes fomos emprestando ao longo de uma década de jantaradas.

Isso sim, o seu a seu dono.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Hip...nose em tons rosa e azul



Uma palavrita com duas letritas, pode esconder um sem número de significados.
Há, portanto, que ter algum cuidado na sua utilização.
Vou dar um exemplo: “Pó”.

Ora o pó pode dar um trabalhão a quem lhe é alérgico, pois não é de fácil remoção e ainda por cima está minado por esse bicho asqueroso que é o ácaro.
Este tipo de pó faz mal à saúde, causa alergias e espirros, inflamações no nariz, garganta e brônquios. É nefasto para os asmáticos e para os mais jovens e seniores entre nós.

Por outro lado, temos outro tipo de pó que geralmente alcunha substâncias que alteram o comportamento psíquico e físico de quem o absorve. Os mais incautos chamam-lhe droga, mas há quem saiba diferenciar o pó da droga mais comum, ao pó de anjo, denominado por acaso de PCP. Este último parece o que não é. Por exemplo, os efeitos que se procuram, alucinações tipo LSD, não passam de uma cópia mal feita, tipo daquelas de Sacavém. Mas o frenesim é semelhante a muitas outras drogas, como o rubor facial, o suor profundo, o maldito formigueiro nas extremidades e a perda de coordenação. Não é, concordemos, a melhor figura que poderemos fazer.

Mas existe um outro pó mais nefasto, horrendo e que nos exige a imediata contra-acção, seja através de posts no facebook (causas, alertas, pedidos), o passa-palavra, até cartas ao Provedor.
É o PÓ...POTA! Dois pós numa palavra de três sílabas!
Um pó que junta todos os problemas enunciados nos dois acima, mas com agravantes:
O Popota cria erupções cutâneas, calvice nervosa. Provoca surdez e perda de razão. Acorda-nos os abafados sentidos guerreiros e um justificado aumento de adrenalina.
Este maldito bicho, ou bicha, ataca-nos no final de cada ano. É vendido nas mais variadas cores, mas tem como principais a rosa e o azul turquesa, o que sugere alterações químicas bem conhecidas de outras décadas.
Enquanto nos hip...notiza como sendo um produto infanto-juvenil, balanceia as suas redondas formas ao som de uma das mais temíveis músicas do século passado, que teve o título “daddy cool”.

Não brinquemos... vestes ousadas, ancas bamboleantes, poses sensuais misturadas com um tema que alerta qualquer encarregado de educação, mas alterado para "pó... popopota, pó...popopota" em vez de "daddy...daddycool, daddy...daddycool", é, talvez, o exercício mais pornográfico que existe e que passa nos nossos ecrãs às horas em que os petizes estão a ver Tv.

E, depois, queixemo-nos que eles querem viver a vida o mais rápida e urgentemente possível...
Tenham pó... aliás, dó!


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A sopa de cavalo dado, não se olha o dente de leite.



Com o aumento previsto do IVA para uns inacreditáveis 23% em alguns produtos de primeira necessidade, resta-nos sentar e fazer contas à vidinha (isso de ter uma vida já foi chão que deu uvas).
De todas as medidas, uma há que exaspera jovens, adultos e idosos, que é o badalado aumento do leite com chocolate, essa mistura catita que tonifica a alma e presenteia o palato com muito Vigor. É, resumidamente, uma bebida Mimosa.
A situação é ainda mais anedótica quando sabemos que o vinho continuará a pagar os mesmos 13% de IVA, não sofrendo qualquer alteração no seu corpo e cor.
Ora esta situação leva-me a tempos idos, da outra senhora, altura em que a nação era pobre e inculta e em que se proferiam palavras que tinham muito peso, como honra, honestidade, ultramar e, até mesmo, mocidade portuguesa.
Nessa mesma altura, era proibida a venda e consumo de coca-cola, por exemplo.
Raio de tempos esses, em que uma criança era obrigada a tomar um pequeno-almoço denominado “sopa de cavalo cansado” para ir quentinha para a escola, calcorreando dezenas de quilómetros ao frio e relento, de madrugada, para depois ter de fazer todo o percurso inverso até casa e ainda ajudar na lida da mesma.
Todos nós criticamos essa mistura venenosa e que fazia mal aos petizes, pois a sopa de cavalo cansado consistia em pão demolhado em vinho tinto, algo que se pensava fortificante. E, hoje, nenhum pai ou mãe ousa sequer pensar nessa solução matinal para o seu próprio filho.
Mas os tempos mudam, o governo mantém-se, e o IVA dispara.
O leite com chocolate ficará arredado do cabaz mensal de uma família média, e ao ritmo a que as escolas fecham por todo o pais, principalmente onde mais fazem falta, chegamos a uma simples conclusão:
Andámos meio século para trás! E isto quando já estávamos atrasados 25 anos em relação à Europa. Portanto, são 75 anos a marcar passo.
Amanhã, os petizes sairão de casa com a barriguita bem cheia de tintol (13% de IVA) e percorrerão dezenas de km para chegar à escola (+ de 700 fechadas este ano).
Ah.... mas transportarão um peso acrescido: chamam-lhe Magalhães. 
Viva o pro... Gresso.


PS: TALVEZ DEVIDO A ESTE ESCRITO, O GOVERNO DECIDIU NÃO AUMENTAR O IVA NO LEITE ACHOCOLATADO.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

sexo



Num dos principais fóruns de think tanks portugueses, um que ainda exige convite para se entrar, está uma gentil rapariga a questionar “o que dizer ou fazer para que os seus posts tenham muitas visitas”.
De início pensei que era um truque para apanhar os mais afoitos numa qualquer teia. Esperei então pelas respostas. Nada. Depois pensei, como a resposta é lógica demais, que todos os membros do clube a sabem bem e não entendem como é que uma donzela pode ser tão ingénua. E acho que é por aqui.
Ao fim de tantos anos nestas andanças da net e dos fóruns e quejandos, todos sabemos que um título para ser famoso, e por conseguinte ser clicado vezes sem conta, tem de conter a palavra sexo. “Sex sells”! E sai reforçado se o autor for do género F.  Sexo escrito por uma donzela é quase sempre sinónimo de um velado convite para se entrar num quarto escuro, onde tudo poderá ser possível, onde os desejos e algumas taras poderão ser correspondidos.
Logicamente que, e dependendo dos canais, o sucesso de um escrito deste género pode conhecer tanta fama que promova a autora a escritora imediata, ou apresentadora de programas televisivos, ou reputada ensaísta ou, ainda, cronista da praça. Vejam-se os vários casos de blogues que passaram a livros, para citar um exemplo. Portanto, há quem pense que é um caminho rápido para subir a escada da fama, sem passar pela meta e receber dois mil escudos (sim, tenho uma versão antiga do Monopólio). Mas essa conclusão é errada.
Tal como afirmámos que era impossível a televisão descer mais baixo após o “big brother”, fomos logo açoitados pelo “bar da tv”, o Mendes como líder contínuo de audiências e demais exemplos que magoa relembrar. E o que temos hoje? A “casa dos segredos” e o tal programa da Fátima que paga as dívidas dos coitados que se prestam à humilhação pública.... mas com um sorriso galhardo na face.
Com o sexo passa-se a mesma coisa: se tivemos um “na cama com” a Alexandra, depois outro de que não me lembro do título com aquela fulana que casa e descasa como eu troco de t-shirt, agora somos confrontados com especiais sérios que relatam os malefícios de uma vida dedicada à actividade sexual, a Sic Radical a mostrar-nos tudo, mas mesmo tudo, antes da meia noite, criticas aos lançamentos (e conteúdo) de títulos em DVD que uma rapariga faz no canal Q, ou o Malato a questionar um jovem católico se existem raparigas que se prostituem por prazer. Ou seja, nunca o sexo desceu tão baixo (evitem relacionar esta frase com o que vos vai na cabeça).
Portanto, se hoje uma senhora quiser escrever ou falar abertamente sobre a causa, será obrigada a encontrar novas soluções para se destacar da concorrência, que é feroz e contínua. Os canais estão abertos, as portas escancaradas. Andamos num vaivém contínuo em busca do santo graal, sabemos tudo sobre o clitóris, prepúcio ou escroto, o bondage é aceite assim como o swing. Então como se destacar das demais?
O meu conselho é simples: keep it clean and simple! Ou seja, escreva no título do post apenas a palavra “Sexo”. Verá, gentil donzela, que muitos lhe irão clicar.
Veja o que vai acontecer com as visitas a este...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os dramas de um escritor no Séc. XXI



Como muitos outros que passaram ao lado de uma carreira artística, também cheguei à idade em que posso tentar ser escritor. Será a última das artes performativas e solitárias, a par da escultura e pintura, em que um cidadão menos jovem pode ainda ousar ser uma criança.
O mais engraçado nesta conclusão, é que sempre fui rodeado por sinais que me indicavam este caminho. Aos 20 queria fazer filmes mas era jornalista, aos 30 fui músico mas também copywriter. Ou seja, sempre que tentei uma outra arte, com ou sem sucesso, estava paralelamente com os dedos ocupados a pressionar teclas alfanuméricas. E reparem que até tentei enganar o destino, pois as outras teclas dos vários teclados que usei, eram pretas e brancas, tal e qual as teclas brancas de um teclado de escrita com inscrições a preto. 
Comecei com pesadas, e de ferro, máquinas de escrever, ainda com teclado Hcesar. Talvez seja devido à enorme força com que se tinha de pressionar uma “letra”, que ainda hoje só escrevo com os indicadores: é que o impulso e movimento rápido necessários, quase que se assemelhavam ao lançamento de uma bola de baseball.
Uma das minhas grandes alegrias foi quando paguei, com muitos contos de réis, a minha primeira máquina de escrever electrónica. As teclas já eram suaves e podia escrever uma ou duas linhas na memória embutida, revendo os erros num pequeníssimo ecrã lcd, antes de dar a ordem para impressão na folha de papel.
Fui feliz e, confesso, muito mais rápido. E também deixei de gastar corrector.
Os tempos foram mudando a tecnologia e, como sabemos, os computadores vieram tomar o lugar dessas maquinetas fantásticas que tanta obra-prima deram a ler. Contudo, muitos escritores preferem escrever à mão, enquanto outros se recusam a trocar a sua centenária máquina de escrever, pela facilidade de um computador.
Como os compreendo...
Passo a explicar:
Hoje acordei ao meio da manhã. Duche e pequeno almoço. Subi o andar para o escritório. Liguei o computador e sentei-me defronte. Chequei os emails e respondi a vários, liguei o Facebook e escrevi uns posts, li as notícias no iGoogle, liguei o Linkedin para aceitar mais uma amizade profissional e respondi às mensagens do The Star Tracker. Num repente, chegou a hora de almoço. Regressado do tasco vizinho, respondi aos emails que tinham respondido aos meus. Re-consultei o FB antes de escrevinhar um slogan e um texto para um anúncio de um cliente. Um amigo nos Estados Unidos ligou-me pelo Skype e ficámos na conversa durante uns largos minutos. Logo de seguida, o telefone tocou: o agente literário perguntava pelos seguintes capítulos. Respondi-lhe que ainda os enviaria hoje. Abri a página em branco do Word mas nada me vinha à cabeça e decidi não stressar, jogando um solitário no computador. Reabri o Word, continuava branco. Vi um episódio de um seriado preferido que tinha acabado de "chegar". Chequei novamente os emails, o FB, o Linkedin e o TST.
Num repente, fez-se luz! Tinha a ideia para terminar mais um capítulo.
Já não temia o cursor a piscar na folha de texto e, quando apontei os dois indicadores ao teclado, a electricidade foi cort...