domingo, 30 de agosto de 2009

oitenta e três

Após longos anos descobri a adjectivação ideal para dois tipos de gente que abomino e de quem tento, muitas vezes com esforço inglório, afastar-me. São as LF e as LS. Curioso como olho agora para quatro simples letras, uma delas até repetida, e percebo quanto demorei a encontrá-las. Mas acho que valeu bem a pena e vamos a isso!

As LF são as Lagostas Fingidas, gentalha que se queixa de tudo e mais alguma coisa como a gripe, a crise, o ponto de cruz, o souflé que não subiu, dos litros que o carro gasta, do preço sobrevalorizado do espumante champanhês, da disparidade de valor de uma salada de rúcula do Pingo para o Apolónia, do povo que está na praia que há vinte e tal anos era sua pertença, do sol que está forte, da nuvem que se coloca mesmo defronte do astro-rei, dos noticiários que só passam tragédias, da falta de elementos trágicos durante o Verão, da celulite das socialites, dos cremes que essas recebem de borla dos seus amigos cabeleireiros um bocado larilas, dos gays que estão ali mesmo à frente e dos corpos esbeltos que muscularmente exibem. As LF estão sempre descontentes mas há uma enorme diferença entre a LFH e a LFM, simples e directos sub-grupos. O Homem é mais desgraçadinho pois fala muito sobre as tragédias do emprego que ainda tem, sabe-se lá porquê. A Mulher vive apenas desgraçadamente exigindo ao seu H mais empenho, objectivos, capacidade de liderança e de trabalhar com espirito de equipa porque para o ano que vem aí mesmo já ao virar da esquina, precisa de uma temporada de liftings e upthings, solário e massagens, tai chi e tuchi e taiquemori para fazer boa figura no tchin-tchin… que só viverá com as amigas da mesma laia.

As LS são as Lagostas Suadas, gentalha que só se queixa do enorme esforço que dispende diária, mensal e anualmente para poder pagar todas as contas dos seus 2,3 filhos, 1,4 imóveis, 2.0 veículos automóveis ou outros, 12+2 mensalidades x X (veículos, imóveis, escolas, atls, ginásios, seguros, time-sharings e ….. – colocar o que falta pois não tenho paciência-), que o governo não presta mas vale mais que uma alternativa que não presta, que vota Isaltino, Felgueiras e demais mesmo sendo cúmplices (e vitimas) dos seus crimes, que acha graça às namoradas do CR7/9 mas repudia a falta de formosura dos elementos femininos da sua família, que o Beemer do vizinho tem um facelift mais actual que o seu modelo, que o pão cozido depois de congelado é mesmo muito mau mas já não há outro e que, raios partam isto tudo, a crise não há meio nem fim.

Agora que vos expliquei o que são LFs e LSs e as razões que me obrigam a fugir a sete pés, perguntar-me-ão se eu próprio não penso algumas destas coisas. E sim, claro que sim! Sou português, eterno insatisfeito, sebastiasnista e por conseguinte, atolado em tudo o que não tem importância alguma.

Como disse o outro e reforçando, se me é permitido, com o meu toquezito, “bolas pá, façamos o favor de ser felizes cum catano!Arrrrrrrrrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeee!”.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

oitenta e dois

Sempre gostei do faz de conta. É, aliás, uma gentil e responsável arte quando se conheceu a sorte de ter sido bem educado pelos educandos e pela vida. Quando se tem dinâmica e reflexos rápidos, demonstra-se alguma lentidão para que os que nos acompanham não fiquem prejudicados. Quando se tem predicados e inteligência, evita-se falar de assuntos que mereceram longo estudo e interesse. Quando se tem dinheiro faz-se com que ele seja generoso e nunca obrigue outrém a fazer ginástica. E quando se tem hipótese, defendê-la como se nada fosse é apenas um verbo durante o dia.

Depois há o contrário: quando se tem alegria abunda-se-la no espaço, quando surge a tristeza afugentamo-la solitariamente e quando não se tem paciência apenas terminamos a situação mais cedo, sempre com um sorriso e sempre com um “até amanhã”.

A vida é deste modo tão mais fácil. E é por isso que se tem amigos com 30 anos de cumplicidades e recebemos os novos de braços abertos e sorriso galhardo.

Não é preciso ser valente nesta vida. Apenas ser humano é quanto basta. E isso devo-o totalmente aos meus pais e à sorte que foi ter sido mimado na vida por pessoas que conheceram a mesma fortuna que eu.

Um sorriso quanto baste, basta.

domingo, 23 de agosto de 2009

oitenta e um

Não sou vingativo. Minto. Penso nas vinganças ao menor detalhe e sigo a máxima de que se servem quando estiver mais frio. Não me dou bem é com injustiças e derrotas que promovem esse nosso feio comportamento, muito menos quando me têm como perdedor. Nessas alturas sou vingativo e como já referi, penso na resposta com calma, perfeccionismo e tenacidade. Mas o tempo passa e acabo sempre por ficar apenas com um amargo de boca já sem força ou vontade para dispender mais energia e apontando o dedo acusatório apenas contra essa minha sofreguidão. Deixo, portanto, que o tempo - esse grande conselheiro - coloque os pontos nos is. Não é que fique satisfeito, mas pelo menos olho para cima e digo em surdina "fez-se justiça!".
Dias atrás aconteceu uma dessas situações em que, passada uma década, olho a derrota de alguém que me derrotou anteriormente. Foi uma conversa olhos nos olhos, digna, séria e emotiva. A outra parte sabe que a sua carreira obrigou ao cancelamento da minha pois só havia um lugar no poleiro. Nunca falámos sobre isso, nunca foi preciso. E nesta altura menos boa, foi comigo que gritou o mesmo que eu já tinha gritado, que amaldiçoou os maus ventos gerais, injuriou uns quantos deuses e suspirou umas cem vezes.
No fim não me senti satisfeito nem justiçado. Até sofri uma pequena ponta de tristeza que rapidamente tentei afastar. Não é bonito sofrer uma derrota. Mas também não é bonito assistir à derrota de outrém.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

oitenta

Desde putos que os portugueses adoram tocar instrumentos. As familias mais à vontade pagam aulas de violino ou piano aos rebentos mas até esses se juntam aos demais para tocar o instrumento mais universal que há: a campainha de porta.
Antigamente era só vantagens. Barato, não pesava nem no bolso nem na mochila e não era preciso grande ginástica a não ser para correr umas dezenas de metros o que até obrigava os jovens a algum esforço físico salutar. Mas até as coisas mais simples da vida mudam. Se antigamente só tinhamos que aprender a técnica da fileira única (conjunto de campainhas reunido num lado da porta de entrada) ou a do Acordeon (campainhas divididas por dois paineis em ambos os lados da porta de entrada), hoje é preciso todo um curso bem superior do Técnico, Restart ou Etic para conseguir tornear a dimensão dos botões, sempre diferentes de prédio para prédio, a pressão do toque, ultrapassar por vezes a maior distância entre eles e esconder a cara com um collant, balão ou capuz para evitar ser apanhado pela câmara a preto e branco ou a cores.
Mas mesmo isso é tarefa fácil se comparado com a nova modalidade: a obrigação de ter que ler atentamente todo um manual de instruções com letras pequenitas e pouco iluminadas, para conseguir saber o código alfanumérico que tocará no andar pretendido após um Enter.
Isto sim, poderá ser o golpe final numa das maiores tradições com que os petizes se entretêm desde os tempos dos nossos avôs. Depois não se queixem da obesidade infantil.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

setenta e nove

Não nasci num Portugal com fracos valores mas num de mudança maior que implicava vontade, energia, caminho e objectivo. Tudo isso falhou mas uma coisa não o deveria e é essa que mais me preocupa, agora que também me toca e persegue.
Se contarmos 80 anos como uma vida, ter 40 é estar na meia idade. Ora em Portugal isso é quase sinónimo, caso nos sintamos obrigados ou com vontade de recomeçar (tão simplesmente e repito, recomeçar), do final da vida útil. É-se um velho, fora da realidade, sem conhecimentos desse novo mundo da web e redes sociais. É-se gasto, out, ultrapassado. Está-se caduco, não maduro. Cansado, não sereno. Louco, não perspicaz. Sonhador, não aventureiro.
Tenho pensado sobre a meia idade. Ao fim e ao cabo, com 40 anos quero fazer muito mais coisas do que fiz até agora. Chamam-me nomes e gozam comigo pois deveria era estar a pensar na reforma para depois poder fazer as coisas que gosto e/ou viajar. Ora tive, talvez, sorte na vida e consegui fazer muita coisa que sempre gostei e até viajei um bocadinho do mundo. Portanto, não é por aí e continuo a querer fazer mais coisas do que fiz até agora. E antes de ouvir outra resposta ou aconselhamento sobre esta grande imbecilidade, construi uma resposta simples e bastante concreta:
Ora se os meus primeiros 15 anos foram de aprendizagem básica, depois mais dez de aprendizagem teórica, depois mais cinco de aprendizagem prática, na verdade só comecei a viver o eu aos trinta anos. Ou seja e por esse ponto de vista, a meia idade profissional é aos 50 (25 de aprendizagem básica + teórica) e terei mais 25, no mínimo, para fazer as tais coisas que quero ainda tentar e conseguir. Ora 50 para 80, noves fora nada, ainda dá uns belos 30 para o antes e o depois, ou não?
Nunca fui bom a matemática, mas bolas... é que nem de uma equação se trata.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

setenta e oito

Chegado de um provençal jantar onde conheci pessoas que deverão fazer parte da minha vida futura, chego à conclusão - mais uma vez - que não me calo quando quero ficar bem no fotomaton. E depois vergasto-me porque o percebo, consciente que se calhar e talvez fui um chato do camandro. Reconhecem a sensação? A que, por um lado, respondemos ao que talvez fosse já o nosso retrato previa e socialmente esperado mas que, por outro lado, poderíamos ter ficado caladinhos e tentado (mais uma vez) aquela coisa de ser um tipo "estranho", fugidio, interessante e misterioso?
Ai o que dava por ser um desses tais misteriosos, fechado numa capa de concentração e interesse, ávido por ler nas retinas o que vai na mente, esperar a altura certa para proferir uma qualquer concordância ou evitar iniciar uma discussão politica, tão em voga neste periodo pré-eleitoral.
Mas sou um livro aberto e nem utilizo aquela máxima "quem gosta gosta, quem não gosta..." pois por muito que a defenda, não a assino assim tão por baixo. Talvez de lado e com um xis para não ser apanhado num tempo próximo.

Mas que chatice...

domingo, 16 de agosto de 2009

setenta e sete

Dos sete aos 77 anos, assim anunciava Hergé o target do seu herói Tintin. Confesso que, embora tenha a colecção a 90%, nunca fui grande fã deste modelo de virtude (?) eternamente jovem e muito fiel à sua Milu. A minha preferência recai toda no extraordinário Capitão Haddock com o qual aprendi as minhas primeiras asneiras (ex: Cercopiteco, Bexigoso, Ostrogodo e a minha preferida e que ainda utilizo nos dias de hoje, Iconoclasta). De resto temos os gémeos Dupond e Dupont, a Castafiore e o Prof Girassol, pouca parra para tanto sucesso. Como slogan, "dos sete aos 77 anos" ficou na ponta da lingua mas ao final destes anos tenho para mim que são os putos de sete que vão continuar a revisitar as aventuras deste herói até prefazerem os 77.
Se calhar quando tiverem 78 vão ler o que sempre preferi - Astérix, Michel Vaillant, Spirou e Fantásio e Lucky Luke só para citar alguns dessa época de ávidas leituras - e com muita muita sorte conseguir folhear os dois títulos do Hum-pá-pá, o pele vermelha.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

setenta e seis

Numa época GPS é bastante estranho como uma coisa pequenita, digamos um petroleiro ou cargueiro, possa desaparecer sem rasto de um mundo constante e totalmente observado. Alarmantes estes modernos sinais em que uma das mais frescas notícias acusa um fabricante de smartphones de monitorizar a vida de quem comprou o mais recente modelo. Cá nas nossas terras, o futuro é chipado nas matrículas dos automóveis que garante ao big brother a total devassa sobre a nossa privacidade. E todos nos calamos assinando aqui e ali uma qualquer petição que sabemos não ir a lado algum.
O verdadeiro herói dos tempos modernos - e com acesso à internet - é o eremita 2.0*, alguém que tenta a todo o custo auto-excluir-se das teias das redes sociais, dos blogs, chats, etc. Alguém que foge a sete pés de um mundo global e à distância de um click (para quem tem mac) ou dois (para quem tem PC) e se recusa a fazer parte de todo esse clã universal.
Encaro essas pessoas - e conheço algumas - como indivíduos um tanto ou quanto sonhadores pois a maior parte tem, para além do IP, um telemóvel e outros gadgets sofisticados. Ou teimosos, pois utilizam o bom que a tecnologia oferece mas recusam as maleitas esféricas de uma liberdade que já não existe.
O grande problema é que também eles sabem que num futuro muito próximo irão ter filhos chipados (com a desculpa de monitorizar o estado de saúde e precaver futuras e graves maleitas), automóveis eléctricos e verdes que garantem um constante blip num ecrã com radar, um cartão único de cidadania já com o que falta no de hoje (e que defende a praticabilidade escondendo o cruzamento de todos os dados e movimentos) e tantos mais truques mascarados de evolução.
Hoje olha-se de lado para o dono que larga o seu cão da trela. Amanhã olhar-se-á da mesma forma para o pai que desliga o chip electrónico do pescoço do seu filho.

*gostei de ter inventado isto.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

setenta e cinco

Numa das semanais tertúlias noctívagas acompanhado pelos comensais de quase sempre, discutimos a questão do oriente e ocidente, dois mundos que queira "deus" nunca se encontrem.
É interessante pensarmos no factor "deus" mas a conversa tentou outra estrada devido às cada vez mais constantes e destruidoras modificações climáticas.
É assustador olhar as imagens de Taiwan e relembrar o tsunami. É complicado assistir ao isolamento de milhões de chineses e queixarmo-nos do calor que suportamos. Tanto lá como cá, com as devidas importâncias, o tempo muda. O mundo muda. E o petróleo continua o seu império, as modernas escravaturas gerem cada vez maiores lucros e o poder não muda de mãos.
Terá que vir uma verdadeira enxurrada na forma de degelo para que os sobreviventes tentem a mudança de comportamentos.

domingo, 9 de agosto de 2009

setenta e quatro

O país está de luto por causa do desaparecimento de um grande humorista e pelo que toda a gente que privou com ele garante, um grande e bom homem.
Seguem-se as homenagens, as palavras, as entrevistas, os especiais, a gula e a chico-esperteza.
Enquanto o Raúl Solnado esteve vivo, lutou como poucos pela sua profissão, ajudou muita gente, conseguiu por milagre fazer a Casa do Artista, era amigo do seu amigo e amigo de quem mostrava que até queria ser amigo. Enquanto esteve vivo sofreu a bom sofrer para conseguir dignidade e atenção para os autores e actores. Enquanto vivo lutou contra o abandono de teatros, pela melhoria das condições de trabalho e tantas mais coisas. Poucos lhe ligaram e ajudaram, principalmente aqueles que têm o poder nas mãos. Agora são esses que estão na primeira fila para dizer um último adeus. É a triste sina dos portugueses que são diferentes dos engravatados. Têm que morrer para serem levados a sério.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

setenta e três

Tentei convencer um amigo norte europeu que está de visita ao nosso país a apreciar alguns petiscos muito próprios e muito saborosos. Achei piada ao fascínio imediato pela sardinha assada (que comeu com as mãos depois de aprender a técnica de retirar os lombinhos de uma só vez), o arrepio na espinha aquando a degustação de um bacalhau à lagareiro (depois de ultrapassada a dúvida sobre comer a casca da batata), o vício imediato pelo nosso tinto e branco fresquinho e o sonho que são alguns doces conventuais.
Os problemas existem mais nas entradas. Ele não compreende como se pode comer orelha de porco (não sabia o que era até lho explicar), salada de búzios, não conseguiu abrir um percebe e abominou o exagero de gordura nas nossas excelentes azeitonas quando reforçadas com azeite.
Hoje vamos tentar uns caracóis e levo camara de filmar.

setenta e dois

Tenho reparado no olhar do Louçã. Mete medo com a sua raiva apontada aos holofotes do momento com um discurso repetitivo contra qualquer coisa sem apresentar uma única solução.
Tenho reparado nos tiros no pé da Manuela. Sei que existe uma hidden agenda para afastar o que será o próximo primeiro ministro daqui a dois anos e alguns meses.
Tenho reparado no discurso embevecido do Paulo. É contido e educado, coisa que não lhe dará mais votos num país de gente à nora.
Tenho reparado no discurso dos representantes do PS, tão contentes com tudo o que se está a passar mesmo estando desesperados com o que vai acontecer.
Não tenho reparado no discurso do PCP.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

setenta e um

A questão dos horários nocturnos do Bairro Alto é melindrosa. De um lado estão os que se queixam, como os moradores. Do outro os que se queixam, como os visitantes. E no meio os que se queixam, como os empresários.
Todo este queixume esconde uma realidade. O BA há muito que perdeu os noctívagos que o fizeram, os empresários com gosto pela cultura (vá lá, ainda sobram dois ou três) e a atmosfera da famosa "movida" que fez Lisboa apetecível durante os 80 e parte dos 90.
Mudam-se os tempos e as vontades, mas com o que se fez e aprendeu poder-se-ia ter aproveitado uma vantagem única e reforçar este bairro com serviços de apoio decentes, uma atenção máxima ao conforto de quem nele reside e aumentar a qualidade geral para quem o visita, só para citar algumas forças.
Mas não. Deixou-se andar e estragar. A falta de respeito pela propriedade alheia (que é a de todos nós) só há pouco tempo conheceu uma pseudo-solução. Admito que era um desses jovens que frequentou o bairro nos seus tempos áureos e que até fazia parte do seu rebanho e foi com uma extrema vergonha, tristeza e raiva que, aquando a última vez que o visitei, descobri uma nova Beirute, um bairro em estado de sitio, os grafities desde o chão até ao ponto mais alto possível, a sujidade, o caos.
Nunca mais regressei e por isso sinto a tal coisa que se chama saudade. Não do local mas de tudo o que deu a quem o amou.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

setenta

Não compreendo como se desculpa a silly season. Na época em que tinha empregador e até horas extraordinárias, escolhia sempre o Agosto para ficar em Lisboa, minha terra querida e de regresso para mim e conterrâneos durante 30 dias. Empreguei bem este tempo, tendo acumulado funções de colegas que se iam, aproveitando o parco trabalho para fazê-lo como mestria e assim subir a pulso nessa multinacional, pois e apenas, dava nas vistas. Tão simplex.
Como eu outros amigos o fizeram e em poucos anos subimos aos cargos mais desejados. Gostavamos de discutir esta nossa política em restaurantes vazios de barulho e com serviço mais esmerado, embalados pela curva ascendente e mais-valias resultantes.
Passaram alguns anos e juntámo-nos novamente esta semana quando percebemos que mais uma vez seríamos nós a ficar na capital. Em anos de vacas magras e sem empregadores, discutimos as tristezas das nossas empresas pessoais e sociais, o fundo do túnel com a lâmpada fundida, a viragem à direita do próximo governo, a luta infantil pela CML, as futuras apostas em mercados estrangeiros como opção não de mercado mas de vida.
Dos seis ex-rapazolas garbosos e donos do mundo, estavam cinco homens tristonhos e cansados. Um já foi para Angola, dois vão rumar também para África e outro para o norte europeu. Os dois que restam estão demasiado agarrados a um ex-luxo que custa muito suor e insónias.
Aqui não se vive, sobrevive-se e não sei porquê, tenho a sensação que estes dois foram pensar muito bem sobre o futuro próximo para as suas vidas e não me admiraria que também eles optem pela emigração.
É assim que Portugal trata toda uma geração que apostou forte no seu país para agora estar com a corda na garganta. E é assim que vai perder, talvez, a última geração que ainda teve coragem e determinação para empreender um futuro.
Mesmo com horas extraordinárias sem serem pagas.

sábado, 1 de agosto de 2009

sessenta e nove

Achei por bem aguardar este escrito, presenteado pelo número mágico que faz sorrir, e tentar escrever uma qualquer parvoíce quando já estou ébrio. Sim, a noite de despedida dos convivas que partem para merecido descanso teminou à pouco e foi dura e longa e num repente quedei-me sózinho neste meu novo mundo.
Confesso que reli inúmeras vezes o parágrafo anterior e estou a fazer um enorme esforço para não escrever erroneamente uma qualquer palavra, quanto mais frase.
Tenho para mim que o álcool, ingerido com comensais que o sabem e conhecem, é uma mais valia na nossa vida. É com ele que conseguimos ser mais afoitos, directos, progressivos e com que, geralmente, até conseguimos chegar ao objectivo quando ele se bamboleia naquele vestido de Verão, mais solto e floral, mais colado e convidativo.
Ou então não, fechamo-nos em copas, armamo-nos na couraça intransponível e achamo-nos melhores que todos os outros, porque assim sim e porque assim sim senhor. Ela até vai perceber que eu fechado em educação sou melhor que o badboy que não a larga...
Confesso aqui e agora que não é raro deixar-me e continuar-me ébrio após longas horas de convívio. Continuo solitariamente em busca daquele mundo cor-de-rosa, ou botão, meto os phones xpto hifi e blablabla na cabeça e redescubro os discos que fazem parte da minha vida, com décibeis pouco salutares e figuras que fariam capa de uma qualquer revista rosa, se eu assinasse esse tom (que não sou em ambos os sentidos).
Curioso... demorei imenso tempo a reler o primeiro parágrafo e agora estou-me nas tintas para os seguintes.
Estou ébrio, só pode.