sexta-feira, 30 de outubro de 2009

cento e três

Ser corrupto, ladrão e/ou criminoso não é para todos. Sempre pensei que essas artes eram exclusivas de pessoas que não têm nada a dever a ninguém e estão longe dessa figura ominipresente e potente que é a... mãe. Ou seja, se quisesse ser amigo do que me é alheio e enriquecer de forma rápida e vertiginosa só me restaria uma possibilidade que era saír daqui e ir para uma terra grande e distante. Imaginem se fosse apanhado pela polícia? Como é que diria à minha mãe que, afinal, toda a educação que recebi não tinha servido para uma vida impoluta e digna mas sim para me juntar aos grupos e líderes deste país (ou de tantos outros) para ter uma forte presença social e cargos ao mais alto nível?
Como é que ultrapassaria a vergonha de ver em tribunal todos os familiares que utilizam o meu apelido? E os amigos que me confiaram segredos ao longo dos anos? E o olhar incrédulo de um pai? E os vizinhos? E o fiado que tenho nas mercearias, quiosques e tascos aqui do bairro?
Por tudo isto, e por muito que até saiba alguns truques desse sub-mundo que é o poder aliado à gatunice, não teria coragem para enfrentar tantas lanças olhadas contra mim.
Sofro desse sentimento que se chama vergonha. Na cara, no corpo, na rua, no trabalho, relações e amizades. Nesta altura em que o dinheiro custa cada vez mais a ganhar de uma forma, vá lá e digamos, honesta, seria muito fácil resvalar para caminhos de triangulação empresarial, orçamentos feitos em papel pardo e sem iva, renomear outrém (menor se fosse possível) para os bens móveis e imóveis, apresentar despesas invulgares ao fisco e ter com amigos essa maravilha que é uma off-shore.
Mas não consigo. Por muito que uma vida de ladrão de jóias e arte me fascine, há sempre a possibilidade de ser apanhado e de ter que telefonar à mãe da prisão.
E isso é impensável.

4 comentários:

maria teresa disse...

Completamente impensável! Deve continuar a trilhar o caminho que aprendeu em casa.:):):)

E se não fosse apanhado?

volteface.book disse...

Maria Teresa... Isto é uma faca de dois gumes. Desde puto que me sinto fascinado por ladrões com pinta, não pelos ladrões de casaca.
:)

maria teresa disse...

Os ladrões malandrecos povoam os nossos sonhos de criança, em todas as gerações :):):)

volteface.book disse...

ora aí está.