sexta-feira, 2 de outubro de 2009

noventa e seis

Hoje vou falar sobre o mito que é a avestruz enfiar a cabeça num buraco quando está receosa. Estou em crer que os portugueses são medrosos, pois tendem a enfiar qualquer carapuça (ou capuz para ser mais moderno) que lhes seja apresentada. E se for numa bandeja servida com fato/gravata da Boss ou similar, é tudo muito fácil. Parece-me que o português anda tão aflito com o seu dia a dia que faz de avestruz a cada problema que surge o que já vem de algum tempo atrás. Isto tudo para chegar ao ponto que quero: a importância que damos ou não ao nosso futuro (local e global) e sentirmo-nos impotentes na educação do bem mais precioso de qualquer país, as nossas crianças.
É intrigante, direi mesmo aterrador, conversar com um adolescente de 13, 14, 15 anos. Escrevi conversar? Esqueçam. Tentar um diálogo com mais de cinco minutos com atenção focalizada, isso. Não pode ser normal perceber que os jovens não sabem nada de nada e, pior, nem querem saber. Enquanto lhes tentamos incutir alguns valores, eles são-nos ripostados com coelhinhas da playboy, simpsons, extreme makeovers, miamis inks e um sem número da patetices tão graves quanto estúpidas. Também, e agora falo só de mim, era um revoltado nessa idade, contra tudo e todos e com muitas certezas sobre os enigmas da vida. Mas bolas, tinha alguma cultura geral pois a isso era obrigado. Sabia que os EUA têm 50 estrelas correspondentes aos estados e fazer um ovo estrelado. Sabia que Camões tinha safo os escritos mas não o olho, ao mesmo tempo que olhava o mundo num globo iluminado. Sabia muita coisa sobre diversas matérias escolares. Sabia aritmética e tinha inteligência para decifrar pequenos problemas diários e, atenção, utrapassá-los sózinho. Hoje em dia e com a mesma idade que corresponderia a mais cinco anos que no nosso tempo, os petizes só pensam em sexo, roupa, moda, sexo, dinheiro, sexo, dinheiro, saír de casa aos 20 e ter grandes casas e carros de luxo nem que, e aqui está o busílis, seja necessário o sexo para lá chegar. Mas o que se passa? E não me venham dizer que há putos e putos, pois sempre haverá. O problema aqui é que não estamos a falar sobre júniores sem condições para estudar e ir longe na vida, mas exactamente sobre os meninos e meninas que até nasceram confortavelmente.
Dir-me-ão "é tirar o telemóvel", "é cortar os canais cabo", "especificar horas de internet", etc e tal. Sabemos bem o que estes passos provocam e por muitos castigos, proibições, policiamento e monitorização que consigamos, eles estão sempre tempo a mais sózinhos. Antigamente, quando fomos catraios, também fazíamos muita merda, mas não a pensavamos com orgulho nem a defendíamos com sangue. E de vez em quando, ouviamos mesmo os mais velhos pois lá no fundo no fundo, sabiamos que eles tinham razão. Hoje tudo mudou e a falta de respeito só tem paralelo na falta de inteligência.
E o que fazemos na maior parte dos casos? Imitamos a avestruz! Só que colocamos a cabeça no buraco não porque estamos assustados, mas porque ficamos com vergonha daquilo que acabámos de ouvir.

2 comentários:

maria teresa disse...

Não seja tão "derrotista"! Nem todos são assim...

volteface.book disse...

Eu sei que não, mas o número é crescente e assustador.