segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

cento e vinte e quatro

Hoje acordei com uma necessidade estranha de escrever cartas com a Montblanc que tenho ali parada, desejando tudo de bom a quem é bom. Cartas... que raio. A última vez que escrevi um longo texto à mão fiquei com ela toda dormente e dorida. Os ossos já não se adaptam à cerâmica do corpo de uma boa caneta, assim como a pressão exacta para desenhar os rabiscos que se transformam em palavras no papel, já não me é imediata e confortável.
Acordei também com uma grande vontade de não levar telemóvel para a rua mas sim um livro. E em vez de me encaixar no veículo automóvel, dei por mim a estudar a rede do metro que, confesso, me é estranha com tanta cor e estações de mudança das mesmas.
Antes de sair, olhei para os relógios que guardo na gaveta. Só um está com a hora certa e muitos sem pilha. Gosto muito de relógios e de canetas que são, no meu entender, as únicas jóias masculinas e vergasto-me por ter deixado de usá-las. O relógio deixou de ser uma necessidade já que o telemóvel, o tablier do carro, o auto-rádio e aqueles monumentos, perdão, mupis lisboetas com publiciade, horas e temperatura, estão sempre a apontar-nos a hora certa. Até o computador a mostra.
Estamos rodeados pelo tempo ao mesmo tempo que perdemos tempo a tentar viver neste tempo moderno que nos exclui de muitas coisas boas da vida, como por exemplo, escrever uma carta a um amigo, educar o aparo de uma caneta nova, encher o reservatório com tinta e olhar a coroa de uma peça intemporal que nos mostra o tempo real em que vivemos, pois ao fim e ao cabo, é esse o tempo que temos.

9 comentários:

maria teresa disse...

Adoro canetas e relógio, tenho colecções de ambos, com mais de 80 elementos cada uma delas.
Por vezes penso: para que quero tanta coisa? Mas dá-me tanto prazer ver canetas e relógios tão bonitos, cada um com uma história! Os relógios ainda os vou usando, ainda não estreei todos, as canetas estão "adormecidas" ...
Voltei a ler o que escrevi e pensei: ora aqui está o discurso de alguém que começa a ficar senil...
Abracinho

Anónimo disse...

Não sei se reparou, mas tem aqui periodos de eleição. Releia o que escreve pois sei que não o deve fazer e perceba que, por vezes, existe magia na ponta dos seus dedos.
Continue, mas entenda o que digo.


Natália Casanova

mf disse...

Também gosto, e muito, de relógios. Daqueles de mesa, então... :)

PS - Porque é que passaste do cento e vinte e três para o cento e vinte e cinco?

Gastão de Brito e Silva disse...

Pois...o saudosismo e a melancolia rivalizam com a tecnologia...hoje em dia cada vez que pego na caneta é apenas para deixar um recado ou assinar um cheque...

Gi disse...

Nos últimos dias tenho vivido tão à antiga, amigo, nem imaginas! :)

volteface.book disse...

Anónimo, seria então um caso sério, não? :) obrigado.

volteface.book disse...

Maria Teresa,um sorriso apanas. :)
Isto de ficar senil tem muito que se lhe diga. É apenas um terreno.

volteface.book disse...

MF, mea culpa
distracção com c.

volteface.book disse...

Gi, vivi o teu tormento online:)