sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O GPS esconde um director de campanha política




Tenho para mim que o GPS, esse aparelhómetro que ajuda pessoas como eu, eterno alfacinha que se perde quando chega à Amadora ou tem de ir a reuniões na Quinta da Fonte e think tanks similares, é um instrumento politico que nos apela ao sentido e obrigação cívica de escolher um dos lados do espectro político-partidário nacional.
Durante uma viagem, somos constantemente agredidos, por uma voz masculina ou feminina, para virar à esquerda ou à direita. Podemos seguir em frente durante um bom bocado, mas inevitavelmente, seremos obrigados a escolher um lado daí a uns centenas de metros ou quilómetros.
Se já não é fácil guiar num país que tem os maiores pilotos do mundo de estrada, para já não falar dos taxistas e de ambulâncias desgovernadas e, nunca esquecendo, peões kamikaze, pombos adormecidos e cães e gatos desorientados, ter uma voz alarmista que nos obriga a virar na próxima saída a 200 metros para um dos lados sem ter a noção do perigo e risco que essa manobra implica, é no mínimo, um completo e profundo exame às nossas capacidades psico-motoras.
Naturalmente, o software português que vem de origem nos GPS, conta com a nossa arte do desenrascanço. E este mesmo software foi a escolha de outros países, como a Turquia, Índia, Grécia e partes da Itália, quando perceberam que os condutores aumentam o volume do auto-rádio para abafar as ordens da maquineta, pois é uma vergonha para qualquer macho receber instruções e direcções, mas que, mesmo assim, ainda os ajuda muito de vez em quando.
Se fizermos o paralelismo para com os governantes, também o português médio escolhe a TSF para o ajudar a passar o tempo perdido nas filas de trânsito. Vai, assim, ouvindo as notícias sobre mais medidas impopulares e as repetidas entrevistas aos candidatos a qualquer cargo público, que se misturam com as tais ordens de viragem à esquerda ou direita. Podia ser confuso, mas não é. O português é teimoso e sabe a direcção que deve tomar, independentemente se for ou não a melhor para o resto dos condutores, passageiros ou restante população. E mesmo se a voz repetir que tem de voltar para trás logo que possível, ele está-se borrifando. Só lhe interessa o seu percurso e a sua noção do que é verdade. Que se dane se é melhor virar para um dos lados para chegar mais depressa a uma solução, leia-se destino. Se ele decidiu desde pequenino que vai virar à esquerda, virará sempre à esquerda, mesmo que o GPS lhe diga e repita que pela direita é o caminho mais acertado. O problema são as rotundas...

1 comentário:

maria teresa disse...

Sem dúvida que são as rotundas ...e elas nascem todos os dias em tudo o que é estrada ou rua, tal como as "outras coisas" que continuam a emergir no quadro socio-político do nosso país.
abracinho