segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os dramas de um escritor no Séc. XXI



Como muitos outros que passaram ao lado de uma carreira artística, também cheguei à idade em que posso tentar ser escritor. Será a última das artes performativas e solitárias, a par da escultura e pintura, em que um cidadão menos jovem pode ainda ousar ser uma criança.
O mais engraçado nesta conclusão, é que sempre fui rodeado por sinais que me indicavam este caminho. Aos 20 queria fazer filmes mas era jornalista, aos 30 fui músico mas também copywriter. Ou seja, sempre que tentei uma outra arte, com ou sem sucesso, estava paralelamente com os dedos ocupados a pressionar teclas alfanuméricas. E reparem que até tentei enganar o destino, pois as outras teclas dos vários teclados que usei, eram pretas e brancas, tal e qual as teclas brancas de um teclado de escrita com inscrições a preto. 
Comecei com pesadas, e de ferro, máquinas de escrever, ainda com teclado Hcesar. Talvez seja devido à enorme força com que se tinha de pressionar uma “letra”, que ainda hoje só escrevo com os indicadores: é que o impulso e movimento rápido necessários, quase que se assemelhavam ao lançamento de uma bola de baseball.
Uma das minhas grandes alegrias foi quando paguei, com muitos contos de réis, a minha primeira máquina de escrever electrónica. As teclas já eram suaves e podia escrever uma ou duas linhas na memória embutida, revendo os erros num pequeníssimo ecrã lcd, antes de dar a ordem para impressão na folha de papel.
Fui feliz e, confesso, muito mais rápido. E também deixei de gastar corrector.
Os tempos foram mudando a tecnologia e, como sabemos, os computadores vieram tomar o lugar dessas maquinetas fantásticas que tanta obra-prima deram a ler. Contudo, muitos escritores preferem escrever à mão, enquanto outros se recusam a trocar a sua centenária máquina de escrever, pela facilidade de um computador.
Como os compreendo...
Passo a explicar:
Hoje acordei ao meio da manhã. Duche e pequeno almoço. Subi o andar para o escritório. Liguei o computador e sentei-me defronte. Chequei os emails e respondi a vários, liguei o Facebook e escrevi uns posts, li as notícias no iGoogle, liguei o Linkedin para aceitar mais uma amizade profissional e respondi às mensagens do The Star Tracker. Num repente, chegou a hora de almoço. Regressado do tasco vizinho, respondi aos emails que tinham respondido aos meus. Re-consultei o FB antes de escrevinhar um slogan e um texto para um anúncio de um cliente. Um amigo nos Estados Unidos ligou-me pelo Skype e ficámos na conversa durante uns largos minutos. Logo de seguida, o telefone tocou: o agente literário perguntava pelos seguintes capítulos. Respondi-lhe que ainda os enviaria hoje. Abri a página em branco do Word mas nada me vinha à cabeça e decidi não stressar, jogando um solitário no computador. Reabri o Word, continuava branco. Vi um episódio de um seriado preferido que tinha acabado de "chegar". Chequei novamente os emails, o FB, o Linkedin e o TST.
Num repente, fez-se luz! Tinha a ideia para terminar mais um capítulo.
Já não temia o cursor a piscar na folha de texto e, quando apontei os dois indicadores ao teclado, a electricidade foi cort...

1 comentário:

Dora disse...

Eu aos 20 e tal quis ser Criativa. :-