sábado, 16 de janeiro de 2010

cento e vinte seis

O poder e riqueza toldam até o mais puro dos justos. Não o neguemos. Quantos de nós perdemos o contacto com aquela gente que é nossa "amiga" quando estamos bem, mas que desaparece sem registo quando ficamos menos bem? Vamos fazer um teste, olhar para os nossos contactos no telemóvel e emails e ver quantos deles estão "desconectados" da nossa existência. Se calhar, mais de metade. Ou para quem não utiliza o SIM para tudo e mais alguma coisa, um pouco menos.
Confesso que tenho muitos, demasiados, contactos que não utilizo nem deverei vir a reutilizar. Então porque pura e simplesmente não os apago da memória, que está a abarrotar pelas costuras?
Por um lado penso que, quando regressar ao topo, já os tenho. Por outro penso, quando regressar ao topo, de que me interessa tê-los? Já mostraram bem o que valem. Mas na verdade na verdade e quando mudo de telemóvel (frequentemente), fico hesitante em carregar na tecla "apagar da memória?". Se escolho o Sim, fico um bocadito perturbado. Se escolho o Não, também.
Bolas, se sei que esta gente não vale nada, porque raio ainda me preocupo com a sua existência?
Sou mesmo tótó...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

cento e vinte e quatro

Hoje acordei com uma necessidade estranha de escrever cartas com a Montblanc que tenho ali parada, desejando tudo de bom a quem é bom. Cartas... que raio. A última vez que escrevi um longo texto à mão fiquei com ela toda dormente e dorida. Os ossos já não se adaptam à cerâmica do corpo de uma boa caneta, assim como a pressão exacta para desenhar os rabiscos que se transformam em palavras no papel, já não me é imediata e confortável.
Acordei também com uma grande vontade de não levar telemóvel para a rua mas sim um livro. E em vez de me encaixar no veículo automóvel, dei por mim a estudar a rede do metro que, confesso, me é estranha com tanta cor e estações de mudança das mesmas.
Antes de sair, olhei para os relógios que guardo na gaveta. Só um está com a hora certa e muitos sem pilha. Gosto muito de relógios e de canetas que são, no meu entender, as únicas jóias masculinas e vergasto-me por ter deixado de usá-las. O relógio deixou de ser uma necessidade já que o telemóvel, o tablier do carro, o auto-rádio e aqueles monumentos, perdão, mupis lisboetas com publiciade, horas e temperatura, estão sempre a apontar-nos a hora certa. Até o computador a mostra.
Estamos rodeados pelo tempo ao mesmo tempo que perdemos tempo a tentar viver neste tempo moderno que nos exclui de muitas coisas boas da vida, como por exemplo, escrever uma carta a um amigo, educar o aparo de uma caneta nova, encher o reservatório com tinta e olhar a coroa de uma peça intemporal que nos mostra o tempo real em que vivemos, pois ao fim e ao cabo, é esse o tempo que temos.

sábado, 2 de janeiro de 2010

cento e vinte e três

Finalmente vamos conseguir falar desta década como deve ser, ou seja, vamos dizer anos 10. Acabou-se, pelo menos para nós que (sobre)vivemos actualmente, a nomenclatura demasiado estranha dos zeros. Esta década foi até um zero à esquerda a diversos níveis, tanto pessoais como globais. Foi mesmo para esquecer como se tivesse nascido para ser limpa da nossa memória. Pelo menos, da minha vai.
Entrei no 10 de uma forma calma, limpa e serena. Nem muito álcool nem muita galhofada. Foi simples, correcta, elegante, com brindes sentidos e outros acompanhados por olhares cúmplices de quem sabe o que este ano vai mudar.
E ai se vai mudar...
Talvez devido a isso, e deixando passar este fim de semana ainda festivo, vou mudar algumas coisas no meu dia a dia. Já acordo mais cedo, decidi deixar de ter tv no quarto (que me acompanhava as insónias e me embalava em inglês), de 40 passei para 5 cigarros (e já vou no 2º dia sem grande tormenta), vou tentar deixar-me da companhia irlandesa com gelo e com ou sem um farrapo de água, decidi beber apenas uma bica em vez das 10 e aproveitar a teína do chá, resumindo, vou mudar mesmo algumas coisas importantes.
Pode ser que estas pequenitas modificações sensoriais antecipem o que vem aí. A ver vamos. Até estou contente. Tenho muitas confusões para resolver, mas estou contente. Bom, talvez este não seja o sentimento certo... Entusiasmado? Pode ser, é melhor.
Vou é torcer para que na segunda feira nada de mau aconteça. Quero evitar sobressaltos que me provoquem alterações e me obriguem a refugiar em café e cigarros. Por via das dúvidas, já retirei a tv da parede do quarto e não consigo recolocá-la no grampo sem ajuda. Portanto vou entrar na semana sem ninguém ao lado para evitar uma recaída.
Ai... sózinho, sem tv, desorientado pela falta da cafeína e sem cigarros porque pensava que aqueles últimos cinco chegavam?
Já me estou a passar... e ainda é Sábado.