segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Miscível não é a mesma coisa que misturável



Cada vez que vou a um restaurante, sou obrigado a avisar o empregado que não quero arroz com batata frita e também não quero cenoura ralada na salada mista. E isto acontece na maioria dos estabelecimentos comerciais.

Ó faxavor,  só quero batata frita! E ó faxavor, não quero cenoura ralada.
Mas quer arroz num pratinho à parte?
Mas que coisa... já lhe disse que só quero batata frita!
E a salada, continua a ser mista?
Mas concerteza! Só não quero a cenoura ralada, o resto pode vir tudo!

É complicado não iniciar a refeição com uma indigestão. Os cozinheiros, a não ser nos locais topo de gama e por conseguinte proibitivos, apanharam esta mania da cenoura ralada não se sabe bem onde. Mas não entendem que o sabor da cenoura crua nada tem a ver com a cumplicidade da alface, tomate e cebola, banhadas com azeite e vinagre? Cenoura crua com azeite e vinagre? Experimentem comê-la num pratinho à parte, ó faxavor...

O mesmo se passa com a dupla arroz cozido com batata frita. Só pela forma de confecção, como se junta um cozido a um frito? Por outras palavras, mas porquê e para quê? Só se for para encher o prato, tipo enfarta bruto, e os olhos para quem gosta de travessas a abarrotar. E como o arroz ainda é barato...

Algumas misturas até podem ser excelentes, vamos lá pôr ordem na mesa. E também acompanham na perfeição carnes várias bem grelhadas. O rodízio brasileiro é uma dessas excepções, onde o arroz mistura-se no feijão preto cheio de molho e com farofa por cima. As batatas fritas são o complemento, não o acompanhamento. Por exemplo, eu não como batatas fritas neste caso. Contento-me e aprecio a misturada cozida. Nem aqui junto fritos a cozidos, mas sei que sou dos poucos que rejeita a batata e a banana. Não sei, não combinam comigo. Mas ele há gostos para tudo.

Com a actual crise, é natural que comecemos a comer menos carne e peixe e nos sintamos obrigados a fazer uma alimentação mais cuidada, tipo vegetariana, em que as gramíneas, leguminosas e hortícolas terão grande destaque. Mas já foram a algum restaurante vegan? Não é estranho olhar para os habitués e reparar no seu ar escanzelado e esverdeado ou até acastanhado?
O problema é que são muito capazes de misturar alimentos, como o arroz a lentilhas, feijão frade a grão, que acompanham aquelas coisas sem cheiro e sabor, tipo seitan e tofu. Não é o mesmo problema? Misturar duas opções que deveriam ser apreciadas pelas suas únicas e diferentes características?

Imaginem uma refeição com feijão frade, ovo cozido e uma lata de atum. Não é bom? E não faz bem? Não é equilibrado e de uma saborosa simplicidade? Então porque misturar-lhe lentilhas, tofu ou algas?

Nada tenho contra a comida vegetariana (o mesmo não posso dizer da macrobiótica). Aliás, e confesso, de vez em quando até sabe muito bem. Mas escolhe-lha como alimentação principal, em que todos os dias vou ter que me virar para o empregado e pedir que retire coisas ou separe outras?
Não me parece.
Quando esse dia chegar (com o FMI ou qualquer outra palhaçada), até eu chorarei ao relembrar os pratos cheios de arroz e batata frita.

Mas, por favor, esqueçam lá a cenoura ralada...

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