Fico sempre estupefacto quando vejo um anúncio de um trem de cozinha da inenarrável ideiacasa. O demonstrado frete de quem apresenta o produto, dizendo que é a melhor coisa do mundo, denota também o enfadado trabalho do copy, que, coitado, preferia estar a escrever um anúncio fantasma para tentar ganhar um qualquer prémio internacional, ao invés sobre as inúmeras qualidades dos tachos de metal com, vejam bem, apliques em "ouro".
Logo depois vem um programa de culinária com a Nigella, tão britânica e perfeita na sua cumplicidade com a família - que entra nos programas - assim como na dos amigos convidados para o repasto, que querem é aparecer na televisão.
Temos também o puto reguila (e anafadito) Jamie que, no meio de “f words” lá consegue dizer que os vegetais são salutares e necessários, tendo enveredado por um caminho mais trabalhoso que é o de tentar mudar a alimentação nas escolas britânicas. Ganhou projecção e muito, mas mesmo muito taco, nesta sua demanda pseudo-vegetariana.
Estes dois cozinheiros são quem mais vende livros pelo mundo. Livros de receitas que também dominam os tops portugueses, ao lado de “O Principezinho”, Crepúsculos e feiticeiros. Não é estranho?
Compreendo que os portugueses gostem de ver programas culinários, pois somos um dos povos com mais saberes sobre a arte, e é sempre de bom tom conhecermos mais uma receita. Mas comprar os livros desta gente? E então o Pantagruel? Ou a sebenta da avó? Ou até mesmo as fichas do Pingo Doce? É que estes dois chefs são, para quem ainda não tenha percebido, ingleses! E todos sabemos que a cozinha britânica é, talvez, a pior do mundo.
Esta minha opinião é discordante da dos meus mais próximos. E enquanto eu prefiro ver aquele senhor grisalho a comer pelo mundo tudo o que faz mal, relembro também dois outros programas culinários que segui: um foi o “two fat ladies” e um outro com um chefe negro e gay, que me mostrou delícias globais. Confesso não me lembrar do título e do nome do sujeito, mas faço um salmão com um molho extraordinário à conta dele.
Ora a discussão estala: como é possível eu gostar deste fulano que apresenta o “No reservations”? Mas que nojo, tal e coiso, ele come tudo e mais alguma coisa, desde insectos a testículos de boi.
Sim... eu sei. Mas descobre novos sabores, novas formas de cozinhar, mostra-nos o mundo real, o que as pessoas comem lá no morro do Rio como à beira rio no Vietname.
Ou seja, para mim, comida não é só um alimento. É também terra, ar, fogo e água. São as tradições, as misturas, as originalidades. É por isso que gosto de ver programas diferentes e ousados, curiosamente, feitos por.... ingleses!!!
Interessante é que a mais saborosa comida não é preparada num glorioso trem de cozinha nem tem um livro de capa dura a acompanhar:
Uma tradicional e tosca assadeira de barro, louro, pimenta, sal e azeite fazem com que todos nós, sem excepção, sejamos o mais fantástico dos cozinheiros.
Não precisamos da originalidade de um lençol enrolado na cabeça, nem dos milhões que a BBC ou ITV investem neste conceito televisivo.
Apenas aguardamos que um amigo ou grupo de amigos nos digam que querem jantar connosco, para provarmos que somos capazes de iguarias ímpares, sem recurso a livros nem programas gravados.
A simplicidade não engana. É como o algodão. E sabe bem.
4 comentários:
Tb adoro o No Reservations! E tens toda a razão, nada como uma loiça sde barro ou, melhor ainda, um fogareiro e um pau de loureiro para fazer um churrasco ;)
Jinhos
R
Mais uma vez assino por baixo da uma das tuas palavras. Deve ser o lado rebelde de Anthony Bourdain que nos atrai, eu como ele como de tudo o que me po~em no prato quando tenho oportunidade de visitar o mundo, senão qual seria o ponto de viajarmos? Two fat ladies era ma realidade um hino ao lado divertido da Inglaterra rural, a única que me cativa e que quase levou o meu marido à loucura quando decidi que queria ter um "hagga"A amiga Nigella , é uma coisa que me intriga e que se situa entre uma reportagem culinária e um spot pornonem sequer é cozinheira, de jornalista pouco inspirada passou a crítica de restuarantes e depois resolveu fazer o programita e escrever uns livros, já que o Jamie de unhas sujas se safava porque não experimentar. Não digas a ninguém, mas uma das minhas grandes paixões é a cozinha e um dia destes perco a cabeça e volto ao balcão do meu bar para envelhecer entre tapas e vinhos encorpados.
Beijos
Tita
Não me lembro do nome do fantástico cozinheiro negro nem sequer do do programa, vou ali remexer numas coisinhas e já te digo.
Tita
Isto de ter seguidores, leitores e opinadores dá no que dá. :)
Fui à procura do chefe negro e gay e, pumba, cá está ele: o genial Ainsley Harriott!
Pronto e eu andei na mesma vidinha, ahahaha. Um dos progamas de que mais gostava era o da BBc "Ready Steady Cook"
http://en.wikipedia.org/wiki/Ainsley_Harriott
Beijos
Enviar um comentário