sexta-feira, 18 de março de 2011

Há que ter calma ao dar o corpo e a alma



Numa altura em que se fala muito de Skin Parties, nas quais e ao que parece, a malta mais nova não se coíbe de fazer figuras que roçam a pornografia, os tempos são realmente de mudança drástica que rasgam transversalmente o anonimato.

Não o anonimato total e enclausurado, mas o normal, aquele que se fecha dentro da nossa casa, conversas, sonhos, palavras, enfim, da tal vida íntima.
Muitos de nós, quase todos, gostamos dos nossos segredos, mesmo tendo uma conta no facebook onde publicamos algumas fotografias e desabafos. Mas daí a mostrar TUDO, há uma grande diferença. E, pelo que parece, a fronteira já não existe para a geração que ainda nem atingiu a maioridade.

Longe de mim vir para aqui criticar miúdos que deviam estar a dormir em casa em vez de mostrar e roçar o corpo até às seis da manhã. Longe de mim sequer tentar conversar com eles e explicar-lhes a noção de urgência, tempo e paciência.

Ainda bem que nasci quando nasci e que tenho a idade presente. Sim, muitas vezes olho para trás e para a frente e sei, de antemão, que já devo ter vivido mais do que irei sobreviver e, mais importante, com muito mais saúde. Mas tive a sorte de ultrapassar a adolescência com tempo, esse mesmo tempo que hoje é consumido com uma tal fúria que, tenho a certeza, vai-lhes fazer muita falta quando, ao chegarem à idade que tenho hoje, olharem para trás e perceberem que fizeram merda.

O facebook e os telemóveis, entre outros, são armas poderosas que se podem voltar contra quem os utiliza. A fotografia ou o vídeo que se colocam online garantem a vergonha social e global de quem foi “apanhado”. A questão da cultura do corpo é tão demente que quase todos os telemóveis dos adolescentes contêm imagens que poderiam ser aceites nas revistas softcore... ou mesmo hardcore. O problema é que estes apetrechos são alvo de cobiça, roubo físico ou digital. E o anonimato, que garante a nossa privacidade, tão importante na nossa existência, está ameaçado de total aniquilação.

Escrevi tudo isto porque me lembro bem das máquinas fotográficas com rolos de 35mm e da angústia que sofríamos até ter nas mãos o filme revelado. Ninguém sabia, nem mesmo quem tirava o boneco, qual seria o resultado e isso era... bom.
Hoje olha-se logo o ecrã, apaga-se ou tira-se outra e ainda se edita dentro ou fora da maquineta. O que ganhámos não compensa o que perdemos.

O mesmo com o telefone. Hoje recusamos ou fingimos não estar disponíveis quando olhamos o número que nos contacta, alguns já com fotografia e tudo. Antigamente tínhamos um telefone preto, sem memória, sem atendedor, sem nada de nada, a não ser a certeza que alguém que conhecia o nosso número nos queria falar. E atendíamos, pois era de bom tom fazê-lo.

Não me venham dizer que sou antiquado, mais a mais porque utilizo o último grito tecnológico em quase tudo.
Só que gosto de manter privado o que só a mim diz respeito.
E acho que o preço a pagar vai ser demasiado elevado.

2 comentários:

Alda Couto disse...

Tens andado muito desarredado :) Já te mudaste?

Unknown disse...

Está para breve, digo eu.
Mas a paragem teve a ver com outros escritos que devem estar na rua no início de Abril.
:)