Há qualquer coisa de muito estranho no manuseamento de tupperwares. Quem de nós já não comprou, ou recebeu de oferta, um conjunto dessas fantásticas caixinhas plásticas, multicolores e com tampas simples, com ou sem ventilação?
Quantos de nós já não as usou e reutilizou vezes sem conta, confiando-lhes o preparo gastronómico que sobrou da refeição? E onde guardamos as fatias de flamengo ou fiambre? E a sopa da mamã? E tantos etc.
Os tupperwares são um ajudante de campo, um braço direito sempre às ordens. São divertidos, funcionais e têm dimensões que nos facilitam a sua arrumação ao lado ou no topo de outros que contêm restos da nossa vida alimentar.
Sendo assim, porque não os tratamos com o máximo respeito e carinho? Porque carga de água os emprestamos à visita que comerá parte das sobras do jantar de hoje, que tanto agradeceu e comentou, ao almoço de amanhã?
Porque é que os entregamos às cegas, confiando que um dia, o mais depressa possível, regressarão ao nosso lar para reconquistar o seu lugar de direito no armário junto ao fogão?
A questão obrigatória impõe-se: sabem onde estão as dezenas de tupperwares que emprestaram ao longo da vida? E de quem são aqueles dois que temos para ali arrumados? E estes, que a mãe jura que são nossos e a que já nos fartámos de responder que nunca na vida compraríamos caixas com desenhos e florezinhas estampadas...
Não vale a pena.
Os tupperwares são como os isqueiros Bic. São nossos, dos amigos, dos familiares. São de toda a gente, não pertencem a ninguém. Visitam casas e vidas. Estão aqui e ali durante um tempo, nunca muito longo, e desaparecem da nossa vista para sempre.
De vez em quando, e com muita sorte, redescobrimos o Bic esquecido ou guardado longe da nossa vista, numa segunda e muito próxima visita. E o que fazemos? Escondemo-lo imediatamente no nosso bolso, com vergonha de sermos apanhados, como se estivéssemos a roubar o pertence de outrem.
Saímos com um misto de vergonha e conquista, apalpando a algibeira onde está resguardado o isqueiro. Mas, lá no fundo no fundo, o que queremos mesmo é apanhar adormecidos os donos da casa, e assaltar o armário junto ao fogão, para escolher, um a um, os 14 tupperwares que lhes fomos emprestando ao longo de uma década de jantaradas.
Isso sim, o seu a seu dono.
3 comentários:
... a eterna ideia do eterno retorno.
Num tupperware.
Combinação por demais interessante!
Um beijo de Constantinopla,
Joana
Ou Bizâncio... :)
É verdade...quantos já perdi de vista...então os isqueiro BIC nem se fala...
Boa dissertação, acabaste de promover uma simples caixinha a um ícone social.
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