segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Manifesto contra os projectores de vox populi



Existem dois tipos de manifestações: as sociais e individuais.
Confesso a minha aversão ao primeiro grupo. Não gosto de manifs, não as frequento, não as defendo e, geralmente, estou contra quem as promove.
Uma manif é quase sempre nacional, como se replica pelos altifalantes, e geralmente engana o associado. É raro resolver alguma coisa, provoca desacatos, alguns tumultos, muitas reportagens televisivas e erros aritméticos.

Se por um lado as centrais sindicais promotoras afirmam sempre que Portugal inteiro aderiu, por outro estão os dados estatísticos que demonstram que os números são exagerados em muitos pontos percentuais.

Mas, realmente, o que é uma manifestação anunciada e agendada?
Para os mais desesperados, é uma forma de gritar, de mostrar descontentamento. Para muitos que ainda têm emprego, é um passeio, muitas vezes combinado como se fosse uma romaria ou uma flashmob.
“Amiga, vamos à manif?”
“Vamos pois. Tenho é de ir comprar uns trapinhos novos. Queres vir comigo e depois lanchamos no Chiado?”
“Olha, belo programa. Deus queira que não chova, pois já marquei o cabeleireiro.”

Uma manifestação deveria contar para alguma coisa. Para mudar qualquer coisa. Ora se os aderentes votam sempre nas mesmas cores, mesmo depois destas serem o principal motivo da desgraça, qual é o interesse da caminhada?
E porque é que as frases de ordem são as mesmas desde a revolução?
Será a repetição a fórmula encontrada para provocar uma mudança de mentalidades? E o que dizer daquele som fanhoso e metálico dos horrorosos altifalantes que ampliam as vozes de quem os segura?
Bolas, a tecnologia evoluiu...

Mas há manifestações que me agradam.
As de carinho estão em primeiro lugar.
Que bom recebê-las e oferecê-las de volta.
Essas sim, mudam alguma coisa: fortalecem uma ligação, alimentam uma paixão.

Ainda não sei se a minha cara metade vai à manifestação anunciada como a maior de sempre. Mas se for, uma coisa prometo!
Em vez de gritar palavras de ordem, como “Ainda acreditas nessa gente?”, “Mas porque é que ainda vais em contos de fadas?” e tantas outras, vou aguardar o seu regresso, manifestando o meu carinho com um chazinho bem quente, uma manta aquecida e pastilhas para a garganta.

Ela manifestar-se-á agradecida, tenho a certeza absoluta!
E depois de uma noite bem dormida, quem ganhará alguma coisa no dia seguinte... serei eu.




2 comentários:

Ana Oliveira disse...

afinal és doce. muito doce. e sem chocolates fora de prazo.
cházinho bem quente e mantas aquecidas fazem maravilhas por manisfestações em que a palavra de ordem é "para sempre".....

maria teresa disse...

Quem sabe,sabe...!