É uma realidade: a maior parte da nossa vida é passada com pessoas que nos são, de uma forma ou outra, impostas.
Começamos cedo, nos parques infantis. Devido ao bairro onde os nossos pais vivem, conhecemos a tenra idade de muitos meninos e meninas, alguns que serão os nossos colegas e amigos ao longo dos primeiros anos de escola.
Essa nossa vida estudantil ensina-nos que a vida é cruel. Quando firmamos as bases para um relacionamento estável e duradouro, lá vem uma nova escola e outra e ainda outra e, com elas, todo um rancho de crianças, adolescentes e jovens universitários.
Somos, portanto, obrigados a estar sempre a mudar de relacionamentos e amizades, algumas que até mereciam uma verdadeira oportunidade.
Chegados ao primeiro emprego - quem o consegue - temos de dividir o espaço com pessoas que não nos dizem absolutamente nada, totais estranhos e, muitas vezes, já receosos pela nossa anunciada presença.
Os choques de personalidade farão parte dos primeiros passos profissionais e criamos as primeiras inimizades que nos podem, realmente, prejudicar.
Tomamos o café com esta gente, passamos a hora de almoço com esta gente e, muitas vezes, ainda fazemos serões com esta gente. Enquanto isto, os nossos verdadeiros amigos, alguns dos quais nos acompanham desde a infância, convidam-nos para jantar ou tomar um copo depois do trabalho. Mas como são mesmo amigos, entendem as negas e fica sempre para uma próxima vez.
Depois casamos e conhecemos toda uma nova família, para além dos muitos amigos da nova companhia. Se bem que alguns são extraordinários, outros não alinham com a nossa – também para eles – imposta presença. Logicamente que haverá conflitos que darão discussões...
Mais uma vez, lá deixamos pendurados os que escolhemos com o coração anos atrás. Mas como são mesmo amigos, entendem as negas e fica sempre para uma próxima vez.
E os vizinhos das novas casas? Não são bem os do nosso prédio, com quem temos acesas discussões durante as reuniões de condóminos, mas sim aqueles que têm varandas ou janelas directamente viradas para o nosso ninho. É toda uma gente que não queremos conhecer, mas que nos entram pela sala dentro... diariamente.
Envelhecemos no meio de pessoas que nos foram surgindo ao longo dos anos, quer por motivos profissionais, quer porque todos acabamos por ter novos relacionamentos, e com eles, novas pessoas que trazem outras, para além de todas as famílias emprestadas que fomos, também, deixando para trás.
Depois alguns admiram-se que existam pessoas com mais de 500 relacionamentos “reais” no facebook e similares...
É um vaivém de apresentações, discussões, pazes e novas oportunidades. São as horas que passamos a olhar de lado alguns companheiros de vida de quem está na nossa alma. São conversas intermináveis com opiniões que não nos interessam e com quem não temos um pingo de cumplicidade.
Enquanto os anos voam, sentimos cada vez mais falta da simplicidade dos primeiros anos do parque infantil, em que gostávamos de A ou B e atirávamos pedras e areia a C e D.
Mas de vez em quando, nos aniversários, natais e passagem de anos, conseguimos lembrar quem nos ficou para sempre e prometemos que será diferente a partir de hoje.
Já ninguém acredita... mas como são mesmo amigos, entendem as negas e fica sempre para uma próxima vez.
11 comentários:
Fizeste-me sorrir.
Beijo.
Tita
E é melhor nem pensar muito nisto... :)
É bem real o que diz João e põe-nos a pensar! Abraço com os desejos de que 2011 o continue a inspirar para estes post's de temas tão simples mas tão esquecidos!
Obrigado Loroana, votos de grandes feitos para 2011.
:)
Fizeste-me sorrir também :):):)
Um óptimo ano para ti. Que tudo corra pelo melhor :):)
Beijos
Mas também se pode ter a sorte de encontrar novos amigos, ainda que só um ou dois, nesses novos mundos onde caimos.
É mesmo uma das realidades da vida para pensar..., mas como tu dizes é melhor nem pensar muito nisto. Adorei!
Perturba pensar que a liberdade é uma ilusão.
Podemos escolher não nos relacionarmos, ermitar,guardar a partilha existencial para níveis espirituais superiores e limitar o vocabulário dispensado nas interacções circunstanciais.
Eu sou das que acha que o melhor pedaço fica para os amigos, os conhecidos gramam com a formalidade exigida pela vida em sociedade!!!
Bom 2011
:)
Um beijo por entre as negas. Ver-nos-emos por entre as nesgas! (hoje estou com tanta graça...)
Joana
As Vossas respostas também me dão esperança. :)
Enviar um comentário