segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Uma carta a deus ex machina.


Sempre se falou do conceito homem-máquina. As artes e ciências usaram-no a seu bel prazer, desde a arquitectura à pintura, passando pela engenharia à tecnologia.

O cinema abusou dos robots com coração sentimental e dos humanos cibernéticos. A banda desenhada também, desde os vilões aos super-heróis. E é melhor nem pensar no filme "Crash" de David Cronenberg...

Na música existe o eterno “the man machine” dos não menos clássicos Kraftwerk que levaram esse conceito até ao limite, colocando robots a tocar as músicas em pleno palco.

Portanto, a que se deve esta paranóia? Qual o interesse em juntar peças de metal à carne, trocar membros naturais por plástico e pilhas? Já não bastam as ajudas centenárias, como os óculos para quem é pitosga, muleta para os coxos, viagra para os adormecidos? Não! O desejo é ter órgãos novos quando abusámos dos originais. E quem não deseja um fígado por estrear?

Vai daí, debrucei-me sobre a questão, tal como Da Vinci, entre outros, o fez. Não me deixaram ir à morgue para comprar uns corpos sem alma, pois parece que é proibido para a maioria das pessoas. E também me esquivei a ser um serial killer, pois a policia anda de olho em mim desde que escrevi, tempo atrás, que procurava o crime perfeito.
Assim, limitei-me a tirar da caixa o antigo boneco do jogo “O Corpo Humano” e lá comecei a colocar as peças dentro das cavidades apropriadas.

O que descobri foi revelador!
Somos realmente um conjunto mal amanhado de pecinhas, colocadas uma por cima das outras, arrumadas de acordo com um qualquer manual de instruções que, milénios atrás, alguém escreveu e deixou por cá.
E este exercício, para quem montou um PC quando isso foi moda, torna-se realmente esclarecedor.

Ora vejamos: Se o corpo humano é uma caixa vazia (continuando com o conceito do computador), terá de ser vertical em vez de horizontal. Portanto, os portáteis e os novos tablets não são o melhor invólucro.
Continuando: o processador é o cérebro. A RAM, o cerebelo.
Estão a acompanhar-me?
O esqueleto é a motherboard. O disco rígido só poderia ser o coração, porque, geralmente, é o elemento que mais problemas conhece, desde crashes a viroses.
Os pulmões são a fonte de alimentação e o leitor-gravador de Cd/Dvd só podia estar transformado em fígado, pois é o que mais depressa se desgasta e encrava.
O teclado são as mãos, e os braços o cabo que o liga ao PC. O rato são as pernas e pés, pois é o que nos permite "andar" de um lado para o outro. Por sua vez, os olhos são o monitor e os diversos autocolantes e inscrições a laser, as tatuagens.

Para não vos chatear com os restantes elementos, termino com o mais chato, aquele que nos exaspera e a que desejamos dar um pontapé: são os cabos, todos emaranhados e torcidos. E o que temos dentro de nós que é a sua correspondência? Os intestinos!

Então? Continuamos a aceitar que foi algo divino que nos fez à sua semelhança ou concluímos que foi um qualquer engenhocas que era um desarrumado do piorio?

Mas essa nem é a maior questão!
O grande problema é que somos todos... made in China. E isso não é confortável, pelas mais diversas razões.

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