Corações ao alto, hoje é dia dos namorados!
Para uns é apenas o dia (aliás, algumas horas após o emprego) em que podem voltar a ser aquilo por que a cara metade se apaixonou em tempos idos.
Para outros, eternos românticos, é uma data ansiada para a qual prepararam um programita (após o emprego) que se inicia com um jantar num restaurante mais especial que o normal, seguido por uma oferenda que se traduz, em 90% dos casos, por um perfume, uma rosa ou um ramalhete delas, um leitor mp3 e, para finalizar, um chocolate final na almofada do leito para aquecer o ambiente, entretanto esfriado com o passar do tempo.
Depois há aqueles que podem ou não dar importância à data mas que estão sem cheta no bolso para alegrar a cara metade.
A estes vou dedicar mais atenção, pois são os que realmente se preocupam.
Preocupam-se com muita coisa, desde o não ter hipótese de comprar uma prenda, passando pela vergonha de não ter hipótese de comprar uma prenda, até à apresentação de desculpas por não ter hipótese de comprar essa mesma prenda.
Este grupo subdivide-se em dois. Os que, tão preocupados, se fecham a sete chaves no seu coração, podendo até mesmo desaparecer durante esse dia para percorrer a pé alguns km na vã busca pela resposta aos problemas, e os que, mesmo preocupados, inventam formas de poder, ainda assim, oferecer alguma coisa à sua paixão.
Estes são, quanto a mim, os verdadeiros românticos e eternos apaixonados por quem escolheram. E, bastas vezes, têm a fortuna de serem amados de volta. Não é extraordinário, perguntará o mais à vontade na crise, que esses pobres coitados conheçam o amor que ele, cheio de crédito, não vive? Pois a vida é mesmo assim e o amor não se paga. Pode comprar-se um bocadinho dele, mas nunca uma metade ou a peça inteira.
O amor de um namorado - e repare-se que mesmo uma pessoa casada pode continuar a ser namoradeira - não tem preço. Nem etiqueta. Nem promoções ou descontos em talão. Nem vai em cantigas. Nunca estará em saldo e nunca se fabricará na China. É mesmo “gostar de”, com todas as frases que surgiam nos cromos da colecção “o amor é” e que os petizes desdenhavam nesses tempos antigos... até se apaixonarem por alguém.
Uma prenda oferecida por este subgrupo é sempre fantástica e adorada por quem a recebe. Pode ser quase tudo, desde um raminho de salsa que será metido no tacho com a refeição preparada em surpresa, como um molho de flores selvagens apanhadas no caminho para casa, um livro que está na prateleira e que é o preferido mas que agora passa de mãos, um passeio mesmo à chuva só porque é raro o fazerem a pé, um daqueles pertences que temos esquecidos mas que sabemos perfeitos para a ocasião, uma carta de verdadeiras intenções escrita com cuidado para se perceber a letra, um poema, uma canção, uma promessa, um brinde a tempos melhores mas na mesma companhia, tanta, tanta coisa.
A lista pode ser infindável.
E quem diz que o dia dos namorados é todos os dias, esqueça. Isso é o mesmo que afirmar que o natal é quando um homem quer ou que a galinha da vizinha é melhor que a minha.
Todos sabemos que é assim, mas ter uma data específica para o celebrar não é, de todo, mau.
Apenas nos reforça o sentimento de todos os dias mas que, por diversos motivos, o vamos esquecendo e tapando com as vicissitudes que a vida impõe.
Portanto, hoje é (mais um) dia para aconchegarmos quem está ao nosso lado, dar um abraço apertado e sentido, olhar nos olhos e relembrar os porquês da escolha e sentirmo-nos felizes por ter alguém que nos ature.
Nem que seja em americano e com balões em forma de coração.
2 comentários:
´tão, por que não há nada entre fantástico e perturbador?
Célia A.
Está lá mais um à direita...
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