terça-feira, 21 de junho de 2011

A arte da pendura no penduranço



Estamos pendurados!

Aliás, sempre nos pendurámos em alguém ou a qualquer coisa, desde os famosos tempos das descobertas aos dinheiros avançados por supra-entidades. Continuamos a ser mestres nesta acção embora, a cada ano que passa, menos optimistas de que no futuro encontremos outros ramos ou alturas.

O penduranço faz parte do modus vivendi lusitano. São os clientes que deixam o pagamento pendurado, os artífices que largam o trabalho a meio, os desencontros, a bateria do carro, o médico que folgou precisamente no dia da nossa consulta, o reembolso do IRS, o telemóvel que crashou, o elevador que avariou, e um sem fim de pequenos azares.
E o que fazemos quando ficamos pendurados? Em vez de olharmos em frente e tornear a situação, achamos mais fácil e prático usarmos esse percalço como expediente para pendurar o próximo.

Existem outros tipos de penduranços largamente comentados pela populaça: o jogador de bola que pendura as botas, o aperto de mão que alguém recusou, a miúda da internet que falhou o encontro prometido, a boleia que não se concretizou. Mas nestes casos, os portugueses encontram sempre forma de se justificarem aos que ficam pendurados por uma explicação: coitado, já não tinha pernas; se eu fosse o outro também não o cumprimentava; ahhh, grande fdp; o sacana vai pagar-mas.

Agora que estamos a cair na real, olhamo-nos com semblante carregado, pois sabemos que até os que nos agarravam também vão ficar pendurados pelas próximas e urgentes modificações público-privadas. E agora?

Agora olha, há que mudar de comportamento e começar a trabalhar. A situação ideal seria entregar os beemers, os benz e os audi aos reais donos, locadoras e bancos. Permitirmo-nos baixar a crista e utilizarmos a excelente rede de transportes públicos que algumas cidades oferecem. Comprar ou alugar uma bicicleta ou motociclo. Poupar nas inovações tecnológicas, pois todos temos o telemóvel de 1995 ali encostado que funciona na perfeição. Preferir a marmita às máquinas automáticas, o tasco do Zé com refeição completa a 6,5€ em vez dos 20 que caem no visa, andarmos a pé numa cidade que, já sem carros, ofereceria os passeios aos peões, reservarmos algum dinheiro para eventualidades em vez de fins de semana no solário ou numa estância de Verão. Ele há um sem número de aplicações.

Seria até fácil resolver esta questão da banca rota se todos pensássemos da mesma forma e tomássemos a decisão. Mas ninguém vai dar o primeiro passo pois sabe, de antemão, que os restantes o vão deixar... pendurado.

1 comentário:

Gatinha disse...

Os tugas, andarem de transportes públicos??? Nah, q lhes caem os parentes á lama... LOL
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