segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os segundos em que o odor tem cheiro.



Somos um país atrasado. Dessa realidade não nos safamos. Até somos um dos PIIGs, embora aquele que mais dá utilidade ao bicho.
Mas uma coisa é ser-se pobrezinho e atrasado, outra é confrontarem-nos com o facto que somos malcheirosos e sem noção temporal.

Como consumidor de revistas semanais e mensais, estou atento aos pequenos sinais que nos atacam subliminarmente, muitas vezes disfarçados de anúncios publicitários.
Sabemos que o big brother is watching us, mas esta nova forma de nos “relembrar” a cada página ímpar que existem 30 relógios e 20 perfumes que alimentarão o nosso ego, começa a ser, quanto a mim, exagerada.

À falta de fé, valha-nos o conformismo capitalista. Os anunciantes sabem disso, as marcas também e a quadra festiva aproveita a falta de esperança religiosa para nos cativar com um sucedâneo, ou seja, um novo pertence que nos fará sentir mais de acordo com o retrato social que ambicionamos e, para alguns, uma maior proximidade com a divindade.

Ora isto seria tudo muito bonito se não estivéssemos a atravessar a tal crise de que todos falam (e que começou em 2000). Não compreendo como as marcas têm tanto dinheiro para gastar em anúncios e, ainda por cima, todos iguais.
A cada página folheada, lá está o relógio que custa uns bons 5000€. E como isso é para macho, surge logo a seguir um perfume mais catita que ronda os 100€, para mostrar à senhora que também vai receber um presente oneroso para mostrar às amigas. Esta situação repete-se até às últimas páginas da revista, folheada com a eterna esperança que alguém saiba que gostaríamos também de ser presenteados.

Mas... se há crise, não há pilim! Portanto, todos estes anúncios são dinheiro deitado à rua. Vai daí, forcei-me a pensar no porquê.
Ontem à noite, durante a insónia habitual alimentada pelas contas e pelo fisco, cheguei à conclusão que tudo isto é um embuste maquiavélico.

Ninguém quer vender relógios e perfumes! Mas as forças que governam, continuam a pensar que estão num oásis, cheios de esperança e com grandes planos para obras públicas faraónicas e inúteis.
Ora nenhum governante, que quer deixar gravado o seu nome a qualquer custo, deseja repetir a feijoada numa ponte, visto que essa leguminosa liberta gases que não são muito agradáveis.
Sendo assim, foi estudada toda uma campanha para mudar os hábitos lusitanos: perfume para esconder o facto que a água, a electricidade e o gás, fora o sabão e o champô, estão pela hora da morte, e um relogiozito catita para chegarmos à hora marcada, e não 30 minutos depois, para a inauguração de uma qualquer obra que mudará os destinos do país.

Sinceramente, esta fórmula roça o brilhantismo. Eu sabia que os milhões gastos no Magalhães iriam servir para alguma coisa.
Agora só falta mudar o acrónimo PIIG para BIG, pois somos... grandes, muito grandes!

2 comentários:

Alda Couto disse...

Ou então não. Ou então a crise não é para todos e esta merda está é muito mal distribuída...

Unknown disse...

Opá, está nada...