Levar com uma maçã no alto da cabeça pode mudar a forma como vemos o mundo. E explica muita coisa. Não há dúvida que o ser humano tem engenho e arte, alguma sabedoria e destreza, mas acima de tudo, a curiosidade felina e um espírito de sacrifício pouco comuns nas restantes espécies. E isto tudo sem contar com o luso desenrascanço, arte milenar que nos governa no dia a dia.
Enquanto vejo passar as últimas horas deste malfadado 2010, em que perdemos tanta gente boa, culta e valorosa, dei por mim a pensar no fulano que inventou que um ano tem 365 dias, mais um quando é bissexto, ou seja, um desenrascanço para alinhavar os números. Mas o que passou pela cabeça desse senhor para perder tempo com toda esta aritmética? E quantos “anos” levou para chegar à conclusão?
De vez em quando, um de nós tem uma ideia peregrina e, num repente, qualquer coisa estranha passa a conhecer uma lógica inabalável. Ele há de tudo, desde grandes pensadores que inventaram maquinetas que ajudaram outros a conseguir enormes feitos, até ao simples curioso que percebeu, arriscando a vida na apanha, que os percebes eram comestíveis.
A lista é infindável: quem foi o primeiro a descascar a banana antes de comê-la? Ou qualquer outro fruto? Quem foi o maluco que descascou a primeira pevide? E o tonto que se protegeu do frio com o primeiro “casaco” de pele e pelo?
É que falamos daqueles que inventaram a roda e perceberam que o mundo não era quadrado, mas esquecemos os pequeninos que nos mostraram o caminho, ao perceber que alguns cogumelos eram nefastos para a saúde e que aquecer azeite com cebola cortada traduz-se num dos mais apetitosos cheiros de que temos memória.
Ora se somos assim, curiosos e extraordinários, porque é que tivemos de inventar uma coisa chamada politica? E, muito pior, políticos? Quantos de nós já não nos enervámos porque temos soluções para os problemas e estes “profissionais” conseguem errar constantemente e fazer tudo ao contrário da mais humilde lógica?
A meu ver, todos eles poderiam levar com uma maçã no alto da cabeça. Até podia ser das podres. Talvez, com muita sorte, acordassem e percebessem que, fazendo mal as coisas, também eles irão perder todos os luxos que garantiram. Mais tarde que nós, mas também.
Até poderia ser que, no caso português, optassem pela reestruturação social, imitassem os antigos quando olharam a educação e a cultura como a grande ponte para a excelência de um povo, por exemplo.
É que sem bases sólidas, nenhum arranha-céus é seguro.
E nós temos a mania de voar alto.
Está na hora de voltarmos a ser pequeninos, mas curiosos e inventivos, destemidos e peregrinos, corajosos e loucos.
É este o caminho para voltar a ser grande.
Apenas um pequeno passo atrás.
Um bom 2011 para todos!